“Foi o ano mais importante da minha vida”, lembrei-me. Aos 28 anos, finalmente um horizonte novo se apresentava. Em 2010 o projeto Unila era apresentado a Foz do Iguaçu pelas páginas do jornal local. Naquele momento era como se estivesse rompendo a trajetória familiar camponesa, sem nunca antes ter acessado essa experiência revolucionária: a chegada ao ensino superior. O significado da Unila na minha família, foi a ruptura com um tempo que a Universidade era para o filho do patrão. O máximo que se almejava até então era terminar o ensino médio e trabalhar, para fazer a roda capitalista girar. Onde o filho do patrão era doutor sem ter doutorado. Todo mundo prega a mudança e o “ moderno”, mas quando a Unila se apresentou foi vista – e isso ainda povoa o imaginário – de algo fora do padrão dos “cidadãos de bem”. Inicialmente, mergulhada na felicidade de estar finalmente no ensino superior impedia de, ingenuamente, combater o preconceito que se acirrou entre alguns cidadãos. Fomos alvos de boatos os mais terríveis possíveis que, com certeza, o fizeram pela desinformação. Foi um festival de comentários doentios, “que os alunos eram privilegiados”, “que eram todos vagabundos”, “que trouxeram drogas e desordem”, “que eram mal apresentados”. Quando me recordava que nunca a vida tinha sido generosa comigo, que tive meu primeiro emprego aos 11 anos de idade em uma pequena fábrica, que nunca usei drogas mas convivia diariamente com elas na periferia, e nunca tinha conseguido comprar uma roupa nova – esses comentários doentios me causava extrema raiva e indignação.
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