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A combinação numérica da data desta terça-feira (22), com oito dígitos e variação de dois números (apenas o dois e o zero), será a última deste século. A explicação está no dia completo, que será o mesmo de trás para frente e vice-versa: 22/02/2022 = 22022022.
Trata-se de uma data palíndromo ou capicua que, assim como a palavra OVO e o nome NATAN, podem ser lidos da mesma maneira da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita. Etimologicamente, a palavra vem do grego, resultado da junção de “palin” (novamente, de novo, em sentido inverso) e “dromo” (caminho, percurso, curso, pista). Capicua é palavra de origem catalã (cap i cua, ou em português: cabeça e cauda).
Professor de matemática há mais de 30 anos, Gustavo Reis, que é integrante do Estude Matemática, uma comunidade que reúne mais de 800 mil pessoas em quatro redes sociais, aponta para uma questão interessante, envolvendo os palíndromos, a chamada “conjectura palíndroma”. Em matemática, conjectura significa uma verdade que ninguém consegue prová-la, mas ninguém apresenta uma contraprova. É exatamente o caso. A conjectura palíndroma indica que escolhendo qualquer número, escrevendo em ordem inversa, somando os dois números obtidos e, se preciso, repetindo a sequência, se chegará a um número palíndromo. Exemplos: 57+75= 132+231= 363 (palíndromo) ou 523+325= 848 (palíndromo).
A mais recente data palíndromo com oito dígitos e variação de apenas dos números ocorreu em 02/02/2020 (também com dois e zero). Depois desta terça, ela só voltará a ocorrer no próximo século, em 21 de dezembro de 2112 (21/12/2112, com os números dois e um). E se repetirá dez anos depois, em 22 de dezembro de 2122 (22/12/2122). Então, voltará a surgir só no outro milênio, em 30 de março de 3003 (30/03/3003).
Ainda terão muitas datas palíndromo com oito dígitos e variação de mais de dois números neste século, como: 13/02/2031 (números zero, um, dois e três), 14/02/2041, 15/02/2051, 16/02/2061, 17/02/2071, 18/02/2081, 19/02/2091, 23/02/2032, 24/02/2042, 25/02/2052, 26/02/2062, 27/02/2072, 28/02/2082 e 29/02/2092.
Para o professor Lucas Neves, que leciona português no Colégio Gabarito e latim no Núcleo de Ensino de Línguas em Extensão (NELE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apesar de parecer o nome de uma doença grave, os palíndromos são antiquíssimos e despertam a curiosidade dos admiradores das línguas.
— Mesmo que não sejam ensinados com frequência em sala de aula, os palíndromos desafiam a nossa percepção acerca das línguas. Para que seja factível em muitos idiomas, a “leitura inversa” do palíndromo deve desconsiderar espaços, acentos, hifens, pontuação e demais recursos que se interpelem entre as letras — explica Neves.
Há palíndromos simples e muito recorrentes em nosso cotidiano, como as palavras “ovo”, “ele”, “rir”, “asa” e “osso”. Existem também os mais complexos, como as sentenças “Roma é amor” e “A grama é amarga”. Esta última, aliás, de autoria de Millôr Fernandes. Há os nomes “Ana”, “Oto”, “Mussum”, “Natan”, “Renner” e “Hanah”.
O palíndromo mais antigo de que se tem registro é a sentença latina “Sator arepo tenet opera rotas”, que significa algo como “O semeador mantém a rota com esforço”. A frase, que possui cinco palavras com cinco letras, era inscrita em um quadrado e podia ser lida de diferentes formas e direções. Convém mencionar que não há registro, em latim clássico, do significado da palavra “Arepo”, que pode, inclusive, ser um nome próprio.
Há um neologismo para descrever as pessoas que têm pânico de palíndromos: aibofobia. A palavra, ironicamente, é um palíndromo.
(FONTE: Lucas Neves, professor de português e de latim)
Todo número palíndromo com um número par de dígitos é divisível por 11. Exemplo: 672.276/11= 61.116 Com cinco algarismos, é possível criar 900 números palíndromos. Em matemática, o número palíndromo também é conhecido como Capicua (origem catalã “cap i cua”, “cabeça e cauda”).
(FONTE: Gustavo Reis, professor do Estude Matemática)
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