Em tempos de isolamento social, para alguns, pois sabemos que esse direito não está sendo permitido a todos, por vezes, nos deparamos com uma enorme apatia. Também dá pra chamar de tédio, estafa, ou algum adjetivo que faça mais sentido para você. As piadas na internet, a reclamação pelo whattsap, a enorme “preguiça” expressa nos inúmeros comentários pelos meios de comunicação, a vontade coisas que não sabemos o nome nem sabemos o que é. Quando não estamos atordoados com o medo e a insegurança, estamos constantemente tentando suprir uma(s) enorme(s) falta(s). Assim como os otimistas, seria agradável proferir: “poderia ser pior”, “quanto mais reclamamos mais as coisas pioram”, “você atrai aquilo que você diz”, mas se tem um momento na história em que é inegável a imensa realidade das coisas, o momento é esse.
Sentimos falta daquilo que não temos. É absurdamente necessário enfrentarmos nossas faltas, reconhecermos na normose imposta o tipo de vida que está estabelecida.
Sabemos que, a falta de algum de nós, não é nada diante do que inúmeras famílias brasileiras têm enfrentado, dada imensa desigualdade social no Brasil. Diante da devastadora vida política nacional parece supérfluo falar de arte, cultura e criação num momento como esse, mas se tem outra constatação muito importante nessa quarentena é que ninguém vive só de pão, assim com ninguém vive longe de sua própria humanidade, e esta humanidade, fruto do trabalho, é acima de tudo, coletiva. Por isso, em tempos de isolamento, onde aglomerar-se no aconchego dos nossos é um risco, propomos aqui, uma conexão com um fragmento de humanidade.
Este texto, não foi escrito para te dizer ou teorizar sobre o que é arte e qual a sua função na sociedade. Este texto é um convite a tentar transver (*) algo. Garantimos que os resultados podem ser divertidos.
A internet tem sido refúgio, lazer e comunicação durante a pandemia. Mas acompanhada dela está a enxurrada de anúncios e promoção, oferecendo condições “imperdíveis” para consumir diante da restrição de acesso aos comércios. Bom, em alguns lugares é claro, e para os mais prudentes. Os anúncios, ainda mais invasivos e frequentes, nos mostram a dimensão cruel da situação: apesar do aumento do desemprego, acirrado ainda mais com a pandemia, a roda do lucro não pode parar.
Além disso, as inúmeras informações sendo circuladas o tempo todo: lives, cursos, notícias, vídeos e mais vídeos, entornam o caldo de um excesso de realidade que transborda a esmo. Não nos interprete mal, informar-se com qualidade é fundamental. A partir dessa realidade, nos parece pertinente, um exercício inspirado nos jogos surrealista do autor Gianni Rodari. Este exercício, uma forma descontraída de soltar a imaginação, e subverter (porque não?) o excesso de informações diárias, consiste em misturar manchetes de jornais ao acaso, construindo notícias fantasiosas.
Combinações são possíveis a partir de teu repertório.
Como fazer: Recorte manchetes e títulos de propagandas de jornais e revistas que já não tenham uso. Embaralhe-os e crie suas próprias notícias fantasiosas.
Reorganize de preferência investindo no jogo de palavras, rima ou não, sincronias e simetrias visuais serão possíveis. E esse tempero extra aparecerá na medida que você for brincando.
Se você não tiver acesso a revista e jornais sem uso, ainda assim é possível brincar. Você pode anotar em um papel manchetes e títulos vistos na televisão, na internet, ou ter ouvido na passagem de um carro de som.
MAIS UM ESCÂNDALO LIXO CULTURAL PARA MIL PESSOAS É TEMPO DE CERVEJA DESEMPREGO CLASSIFICA O PLANO DO PODER
O processo de criação fica a seu critério. A ideia é buscar as combinações mais absurdas possíveis, ou, aquelas que façam sentido para você. Se você gostar, pode colar os recortes, como na imagem acima, ou copiá-los e expor em suas paredes.
Uma variação muito interessante deste exercício pode ser feita usando uma poesia que te agrade. O poema pode ser impresso ou copiado em em papel, depois cada verso é recortado em uma tira individual e a ideia é recombinar os versos formando novos poemas.
Os exercícios citados acima nos mostram que podemos recombinar, rearranjar e dar novos significados a elementos presentes em nossas vidas e, esse processo não precisa necessariamente partir do zero. Convidamos a olhar a realidade como ela é, mas sem perder de vista como ela pode ser.
*Referência à Manoel de Barros “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo”.
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