Bartolina Sisa, assassinada pelas forças colonialistas no século 18 – Imagem: reprodução /
No dia 5 de setembro, mesmo dia em que é comemorado o Dia da Amazônia, também é celebrado o Dia Internacional da Mulher Indígena. Além da preservação da biodiversidade, bem como a luta contra as mudanças climáticas, as mulheres indígenas desempenham um papel essencial na preservação de suas culturas, línguas e tradições milenares. Muitas delas estão na linha de frente na defesa dos povos amazônicos, cujas terras e modos de vida estão sob constante ameaça.
A data foi instituída em 1983, durante o II Encontro de Organizações e Movimentos da América, em Tihuanacu, na Bolívia. O dia foi escolhido em memória de Bartolina Sisa, morta durante a rebelião anticolonial de Túpaj Katari, no Alto Peru, região atual da Bolívia, nos anos de 1780.
Bartolina nasceu em 1750, ano do infeliz Tratado de Madri que uniu as potências de Espanha e Portugal contra um inimigo comum: os povos nativos das Américas. Era da comunidade de Sullkawi del Ayllu, na atual Bolívia.
Seus pais José Sisa e Josefa Vargas eram comerciantes de tecido e de coca que passavam pelos povoados bolivianos vendendo seus produtos artesanais. Aos dezenove anos Bartolina assumiu com profunda convicção o resgate do seu povo e as lutas pela emancipação definitiva das comunidades indígenas da Cordilheira dos Andes, contra a dominação e o etnocídio pelos conquistadores europeus desde o altiplano até os vales de La Paz.
Em 13 de maio de 1781, Bartolina liderou o exército dos Aymara contra os espanhóis na cidade de La Paz; o cerco durou 109 dias. Traída por alguns dos seus guerreiros, foi entregue como prisioneira de guerra ao governo Espanhol em troca de recompensa. Levada para a cidade de La Paz, foi recebida com pedras e encarcerada por um ano. Em 5 de setembro de 1782, Bartolina Sisa foi condenada à morte, levada nua ao centro de La Paz, arrastada por cavalos pela praça central até morrer; seu corpo foi esquartejado. Tinha só 32 anos de idade e sonhava a libertação dos povos indígenas da exploração do colonialismo.
Estimativas da ONU Mulheres, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) dedicado a promover a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, revelam que, no mundo, há uma população indígena de aproximadamente 476,6 milhões de pessoas, e dentre elas, mais da metade, o equivalente a 238,4 milhões, são mulheres.
No entanto, na América Latina e no Caribe, persistem lacunas de desigualdade que afetam significativamente a autonomia das mulheres em geral. Essa desigualdade é ainda mais acentuada quando se trata das mulheres pertencentes a grupos indígenas, que enfrentam diversos tipos de violência e discriminação.
Diante desse cenário, é essencial que os países promovam uma cultura que respeite, reconheça e apoie a liderança das mulheres indígenas, com ações de prevenção, punição e erradicação de todas as formas de violência contra as mulheres, incluindo aquelas que impedem sua plena participação na vida pública e no processo decisório.
O reconhecimento e empoderamento das mulheres indígenas são passos fundamentais para garantir a igualdade de gênero e para preservar não apenas suas culturas e tradições, mas também o meio ambiente e a biodiversidade que são essenciais para o futuro do planeta.
Mulheres indígenas em luta pelos direitos de seus povos no Brasil – Foto: Gov BR
Para a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, “as mulheres indígenas têm um papel fundamental tanto na vida dos povos indígenas como para todo o planeta. Nós defendemos direitos coletivos, direitos humanos, direitos dos povos indígenas, direitos que vêm desde nossa ancestralidade, mostrando que nossos conhecimentos tradicionais, nossos valores, nosso olhar sobre a coletividade, e a importância da cultura e de manter a conexão com a mãe terra e a mãe natureza”.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), por meio da Coordenação de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social (Cogen), atua com o propósito de apoiar as mulheres indígenas na busca da não-discriminação e reforçar o papel delas na promoção do bem viver, sempre considerando a diversidade e a especificidade de cada povo. Dessa forma, pode-se estabelecer um processo de escuta de suas demandas pelos órgãos de governo para se criarem ações e políticas públicas específicas.
A Cogen trabalha ainda para o fortalecimento das mulheres indígenas dentro e fora de sua comunidade, a fim de que sejam respeitadas nos mais variados ambientes e ocupem áreas diversas no campo social. Nesse sentido, a Funai preza pelo apoio ao diálogo, pelo suporte às mulheres indígenas na luta contra a violência doméstica e pela conscientização sobre instrumentos de defesa e direitos garantidos por lei.
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