Mulher indígena em manifestação pelos seus direitos em Brasília, antes da pandemia do Covid-19 (Agência Brasil)
Hoje (5) é Dia Internacional da Mulher Indígena. A data foi instituída em 1983, durante o II Encontro de Organizações e Movimentos da América, em Tihuanacu (Bolívia). A escolha desse dia foi feita porque em 5 de setembro de 1782 morreu Bartolina Sisa, mulher quéchua que foi esquartejada durante a rebelião anticolonial de Túpaj Katari, no Alto Peru.
Tanto no Brasil, como em outros países da América Latina, as mulheres indígenas desempenham historicamente um papel fundamental como agentes de mudança nas famílias, comunidades e na vida de seus povos, porém, a cultura indígena sempre foi tratada com muito desprezo no Brasil, fora a imagem caricata com que os indígenas são representados e a apropriação que se faz de sua cultura.
A ONU Mulheres destaca também que as indígenas são essenciais em diversas economias, trabalhando por segurança e soberania alimentar, além do bem-estar das famílias e comunidades. As mulheres indígenas acabam sendo um grupo que pouco ouvimos falar, até mesmo pouco pensamos, quando falamos de Feminismo.
As mulheres indígenas são as mais gravemente afetadas pelo modelo de desenvolvimento econômico imposto no Brasil. São elas que sofrem de forma mais contundente os impactos provocados sobre o meio ambiente.
Quando os indígenas perdem acesso aos recursos ambientais que garantem sua segurança e soberania alimentar, são as mulheres as mais penalizadas, pois geralmente são elas as responsáveis por cuidar da alimentação. Essa é uma característica comum a muitas comunidades tradicionais. Também são elas as mais impactadas pelas grandes obras que perturbam o modo de vida de suas comunidades.
Um recente estudo das Nações Unidas ressalta que a violência contra meninas e mulheres indígenas é pouco discutida e velada na maioria dos países. Em todo mundo, povos indígenas sofrem com a exclusão social, a pobreza e a migração, além da discriminação e da invisibilidade social. O estudo mostra que a violência contra as indígenas é intensificada pelo histórico de dominação colonial, exclusão política e econômica e a falta de serviços básicos. Enfrentam ainda negligência, exploração, tráfico humano, trabalho forçado e escravo.
Deputada federal Sonia Guajajara: “O objetivo é mobilizar nas redes apoio ao plano emergencial para enfrentar a pandemia e visibilizar o papel dos povos e dos territórios indígenas na proteção do meio ambiente.” (Foto: divulgação)
Essa é a primeira vez, depois de anos de uma agenda repleta de compromissos mundo afora, que a líder indígena Sonia Guajajara passa tanto tempo em casa. Ela mora na cidade de Imperatriz, no Maranhão, a cerca de cem quilômetros da terra indígena Araribóia, onde nasceu, em 1974. Desde março, está em quarentena junto com a filha mais nova, de 15 anos, e os dois filhos mais velhos, de 18 e 20. Mas os cinco meses sem viagens pelo país e pelo mundo não significaram uma pausa no trabalho. Muito pelo contrário.
À frente da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara tem mobilizado esforços em diversos setores para construir um plano de enfrentamento à Covid-19 entre os povos indígenas que envolva a adoção de medidas sanitárias e de saúde nos territórios, a articulação nos poderes Legislativo e Judiciário para implementação das medidas e o fortalecimento de uma rede internacional de apoio a causa. Até o final de agosto, o país já somava quase 29 mil indígenas contaminados pela Covid-19, 757 mortes e 156 povos afetados.
Como parte dessa articulação, neste 5 de setembro, Dia Internacional da Mulher Indígena, a Apib promove uma live com a cantora Anitta e, neste domingo, lança o último dos oito episódios da websérie “Maracá – Emergência Indígena”. A série é dirigida por Bia Lessa, pela própria Sonia Guajajara, a liderança Célia Xakriabá e a cantora e compositora Maria Gadú. O objetivo é mobilizar nas redes apoio ao plano emergencial para enfrentar a pandemia e visibilizar o papel dos povos e dos territórios indígenas na proteção do meio ambiente.
Em entrevista concedida ao suplemento CELINA do jornal O Globo, por telefone, Sonia Guajaja falou sobre a websérie e sobre a articulação da Apib para combater a Covid-19 entre os povos indígenas, relembrou sua trajetória e enalteceu a importância da liderança de mulheres indígenas. “Estamos fortalecendo cada vez mais o movimento indígena e a maioria das articuladoras são mulheres. A gente tem feito muita diferença.” (Yahoo)
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