Buscando desvendar a atuação das bibliotecas comunitárias no país, entre janeiro de 2017 e junho de 2018 vinte e três pesquisadores de campo coletaram dados em 15 estados e o Distrito Federal, para a pesquisa “Bibliotecas Comunitárias no Brasil: Impacto na formação de leitores”. O objetivo principal desse estudo foi identificar, compreender e dar visibilidade ao papel que essas bibliotecas cumprem nos processos de formação de leitores.
Conforme o resultado da pesquisa, a maioria das bibliotecas comunitárias são criadas e mantida pela sociedade civil, com o intuito de ampliar o acesso ao livro e à leitura em determinada comunidade, seus frequentadores são atuantes e participam ativamente nos processos de gestão e planejamento das ações. O levantamento teve como amostra 143 bibliotecas, sendo que 92 dessas são integrantes da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC).
Os dados foram coletados presencialmente em 123 espaços e apenas 20 tiveram seus dados coletados a distância. Esse estudo mostrou que 86,7% dessas bibliotecas estão localizadas em zonas periféricas de áreas urbanas em regiões de elevados índices de pobreza, violência e exclusão de serviços públicos; 12,6 % delas estão em zonas rurais e apenas; 7% em área ribeirinha; 66,5% das bibliotecas foram criadas por coletivos, grupos de pessoas do território e movimentos sociais.
Outro ponto revelado foi que os profissionais que atuam nas bibliotecas cumprem diferentes funções: gestores, bibliotecários, facilitadores e mediadores de leitura. A prática da leitura compartilhada faz parte da identidade da maioria das bibliotecas pesquisadas. Um dado relevante sobre os mediadores de leitura, pessoas que fazem a ponte entre os livros e os leitores é o alto índice de escolarização entre eles: mais de 90,2% têm ensino médio até a pós graduação.
“A maioria dos mediadores têm uma escolaridade superior à média de suas cidades, que o tempo de atuação, a dedicação e o fato da maioria, também ser morador das comunidades em que atuam, empresta uma singularidade na construção dos vínculos entre moradores e bibliotecas” disse Cida Fernandez, uma das coordenadoras do estudo e representante do Centro de Cultura Luiz Freire, de Pernambuco.
“Este é de fato o primeiro estudo exploratório amplo com foco no impacto na formação de leitores. Além disso, esse estudo também tem o papel de quebrar a ideia de que as bibliotecas comunitárias são espaços que abrem e fecham, sem ter qualidade e que não conseguem se sustentar. A pesquisa revelou o cuidado com que as elas vêm se desenvolvendo e que à medida que têm mais tempo, mais recursos, os cuidados, o acervo literário, o ambiente e as práticas vão melhorando” analisou Cida.
A pesquisa apontou algumas diferenças entre as bibliotecas comunitárias e as públicas, a saber: são próximas – estão dentro dos territórios, são acessíveis e estão envolvidas com suas comunidades, seus espaços são pensados para assegurar práticas de leitura compartilhada, possuem acervos que priorizam o letramento literário, a gestão é compartilhada com outros agentes comunitários, a população identifica a biblioteca e os mediadores de leitura como referência para as pessoas e as comunidades, e que a maioria dessas bibliotecas se articula em parcerias e em redes locais .
“Aquelas pessoas que têm acesso e frequentam essas bibliotecas gostam de ler, sabem da sua importância, têm interesse pela leitura e estão lutando para conquistar e garantir esse direito nesses territórios marcados pela exclusão de políticas públicas de cultura e educação” esclareceu Cida, que dividiu a coordenação do estudo com Elisa Machado, do Grupo de Pesquisa Bibliotecas Públicas do Brasil, da Universidade Federal do Estado do Rio (UNIRIO), e Ester Rosa, do Centro de Estudos de Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
De acordo com a coordenação da pesquisa, nos próximos dias será lançado um ebook com os dados completos dos levantamento, o qual poderá ser baixado gratuitamente. Além de subsidiar novos estudos, este poderá servir de insumo para a atuação de agentes em torno das políticas públicas de livro, leitura, literatura e bibliotecas.
Em 2015, nasce a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias – RNBC, que congrega atualmente mais de 110 bibliotecas comunitárias espalhadas pelo país, articuladas em redes de bibliotecas locais nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste.Os promotores da leitura dessas redes estão espalhados nas periferias de noves estados brasileiros – São Paulo, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Ceará, Bahia e Maranhão – com ações e trabalho diário de incentivo à leitura e à literatura e a democratização do acesso ao livro e à cultura literária.
__________________________De Quero Minha Biblioteca / Fonte: pesquisa “Bibliotecas Comunitárias no Brasil: Impacto na formação de leitores”
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