Mais uma vez nos aproximamos de um dia Internacional da Mulher Trabalhadora! Ano passado, a essa mesma época, discorri sobre o contexto histórico e o porquê dessa data fazer parte do calendário de lutas da classe trabalhadora. Este ano me pergunto: algo mudou de lá pra cá? Temos o que comemorar ou muito a lutar e resistir? Realizando uma pesquisa rápida em páginas na internet, os dados são assustadores. Mesmo com a alteração da lei em 2015, que tipifica o assassinato de mulheres por questões de gênero, e trata-o como feminicídio, o índice de mulheres assassinadas, simplesmente por serem mulheres, aumentou muito em praticamente todos os estados da federação no último período. Violentadas e assassinadas em casa, no trabalho, na rua, no bar, na igreja, na faculdade, estamos cada vez mais amedrontadas e acuadas! E somos: médicas, advogadas, professoras, artistas, donas de casa, vendedoras, desempregadas, esposas, namoradas, companheiras, mães! Destaque para o fato de o índice ser maior entre mulheres pobres e negras. Para além da violência que ceifa a vida de milhares de mulheres no país, não podemos nem falar em igualdade ou equidade de gênero. Quando mais da metade dos lares brasileiros são mantidos por mulheres que recebem um salário menor que homens, exercendo o mesmo cargo e/ou função; quando falamos da múltipla jornada feminina, que mesmo trabalhando fora ainda é responsável pelo serviço doméstico e pelo cuidado dos filhos; quando sabemos que o abandono paternal é aceito socialmente, mas quem discute a legalização do aborto são homens ricos, enquanto mulheres pobres, abandonadas pelo Estado, são condenadas moral e mortalmente; estamos muito aquém de igualdade, quiçá de equidade de gênero! Todos os dias mulheres são subjugadas e violadas. Condenam sua forma de vestir, falar e agir. “Justifica-se” violência contra mulher baseado em seu comportamento. Múltiplas violências! O que explica o fato de que muitos casos de agressão não entram para as estatísticas, pois simplesmente não há denúncia formal, uma vez que as vítimas são coagidas e condenadas por quem deveria acolher e ajudar. O número de delegacias da mulher no país é ínfimo. A questão de violência de gênero tem relação íntima com a desigualdade social que assola o país, já que muitas mulheres se submetem à humilhação e violência por não terem condições financeiras de subsistência, para si e para seus filhos. Mais uma vez o abandono do Estado! Medidas protetivas, quando há registro por parte da vítima, têm se mostrado ineficazes, uma vez que muitas mulheres são mortas mesmo depois de terem denunciado seu algoz. Não há como descolar a violência de gênero da luta de classes! Mulheres são inferiorizadas e violadas para que aceitem se submeter à exploração do sistema. Portanto, a luta feminista é classista e é de todos e todas! Ainda há um longo caminho a ser percorrido, pouquíssimo a se comemorar e muito a resistir e lutar! 8 DE MARÇO: DIA DE LUTA E RESISTÊNCIA!
____________________________Danielli Ovsiany Becker é professora e sindicalista em Foz do Iguaçu, Pr.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.