Depois que eu descobri não existir passado, presente e nem futuro, as coisas começaram a se complicar para mim. Pelo menos no início. A gramática, por exemplo, jamais seria a mesma, impedida a conjugação do verbo em seus três tempos…
Daí pensei: ora bolas, se Lavoisier estava certo e na Natureza nada se perde e nada se cria e tudo se transforma, e mais, se Deus não tem princípio nem fim e está em todos lugares ao mesmo tempo e eu fora criada à sua semelhança, a partir daí a minha mente começou a se desnosar.
A morte que seria um marco incisivo do tempo, o aC e o dC (ante e depois do Chico) do meu passado e do meu futuro, este conceito também iria para o espaço, literalmente. Afinal, para fora do Cosmos ninguém conseguiria me exilar, fosse quem fosse seu intentor e o meu estado – líquido, sólido ou gasoso.
Para algum lugar no espaço infinito eu seria despachado, mesmo tendo que viajar alguns anos – luz, ou quem sabe, alguns temerários anos – treva. Faltava apenas reativar uma função qualquer no recôndito da minha memória para daí sim, situar-me e manter a consciência durante a viagem para a vida, para enterrar de vez o critério de passado e futuro, pois o presente eu acabara de descobrir que não seria possível.
Assumida a intemporalidade e a onipresença, restava-me única e sensatamente, invadir e curtir o fator espaço e apressar minha carteira de habilitação como cosmonauta – peremptivo, pasmo e contemplativo – desse meu novo existir. A base de lançamento, este paraíso encantado e mágico das Cataratas, eu já tinha. Decolar era preciso.
A vida para mim, começava a ter e a ser uma graça.
Muito mais graça.
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