Malak El Araby : “Fiz um filme sobre coisas simples, o valor das pequenas coisas”
Uma mostra de curtas-metragens de até dois minutos está exibindo o trabalho de dez cineastas africanas sobre a vida durante a pandemia de covid-19 e seus impactos pessoais, econômicos e sociais. A iniciativa é do Festival de Cinema Africa in Motion em parceria com a Fundação Ladima, ONG africana que incentiva a produção audiovisual feita por mulheres.
Os curtas mostram as dificuldades que muitas mulheres africanas vêm enfrentando, em histórias comoventes com temas como violência doméstica, falta de oportunidades, aumento da carga de cuidados, e também histórias de resiliência e esperança, como o curta “Existir” (Being, no título original), da cineasta egípcia Malak El Araby, que traz um tom mais positivo sobre o momento que estamos enfrentando.
Entre as dez produções estão também filmes de mulheres do Quênia, Gana, África do Sul e Nigéria. Cada cineasta ganhou um cachê de 500 euros (R$ 3.042 reais pela cotação atual) e a exibição de sua obra em diversos formatos.
Os filmes podem ser vistos pelo site do Africa in Motion com legendas em português fornecidas pela Mostra de Cinemas Africanos, projeto de Ana Camila Esteves, que realizou o trabalho com o intuito de aumentar o alcance e a visibilidade das narrativas entre os países de língua portuguesa.
O curta da egípcia pode ser visto a partir do minuto 16’45” do vídeo abaixo.
https://player.vimeo.com/video/437395675
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Em entrevista à ANBA – Agência de Notícias Brasil Árabe – Malak El Araby falou sobre este que é seu segundo trabalho. A cineasta de 21 anos vive na capital egípcia e estuda cinema na Universidade Americana do Cairo. Ela afirma que a ideia do curta veio durante o lockdown, que a fez pensar sobre tudo que ela sentia falta. Seu filme intimista mostra cenas que ela mesma já havia gravado antes do início da pandemia, com pessoas dando as mãos, se abraçando, caminhando pelas ruas, se reunindo em festas de aniversário e casamentos e até indo à mesquita rezar.
Cenas do curta de Malak, classificado para o Festival. (Foto: reprodução)
“Em três meses de lockdown, fiquei pensando sobre tudo que eu sentia mais saudade, como sair com meus amigos, eventos como casamentos e formaturas, e coisas simples como dar as mãos, e me fez pensar em como todos nós não damos valor às pequenas coisas, e foi algo bom, porque a quarentena me fez entender isso”, disse Malak. Ela também perguntou aos amigos do que eles mais sentiam saudade e todos mencionaram as pequenas coisas do dia a dia.
“Então tive a ideia de fazer um curta-metragem que fizesse com que as pessoas sentissem o que eu estou sentindo sobre essa quarentena. Em vez de só pensar no lado ruim, e que estamos deprimidos, e toda a situação da covid-19, podemos tirar algo positivo disso e fazer as pessoas pensarem no quanto elas podem dar mais valor ao que têm de bom, e quando tudo isso tiver terminado, poderemos apreciar mais as pequenas coisas”, disse.
Ela afirmou que o intuito do filme é mandar uma mensagem positiva para as pessoas neste momento de limitações. “Não deveríamos perder para só então dar valor, deveríamos apreciar as coisas como elas são e ser gratos”, disse.
Como a quarentena não permitia que ela filmasse nada na rua, Malak usou vídeos que ela já tinha feito antes da pandemia em seu telefone ou em sua câmera, para que o filme pudesse ser realizado. “Então pensei em tirar algumas cenas desses vídeos de arquivo que eu já tinha feito e montá-los junto com o que eu escrevi – o texto que está nas legendas – e fazer o curta, porque eu realmente queria fazer esse filme mas não podia sair, tínhamos que ficar em casa”, contou.
Malak aparece em algumas cenas do filme, como aquela em que está na garupa de uma motocicleta, e também em outro momento, caminhando. As outras imagens são de paisagens, amigos e familiares da egípcia, o que proporciona uma sensação realista e intimista ao filme, segundo ela.
A cineasta conta que editou o filme de modo a parecer que são imagens de uma tevê antiga, para dar a impressão de serem memórias aos olhos do espectador. “Mas quando tudo isso acabar, tomara que não sejam mais apenas memórias”, disse.
Este não é seu primeiro trabalho. Ela conta que é apaixonada por cinema e tem outro curta-metragem no currículo, e que costuma fazer filmes de viagem sobre cada país que visita. “Gosto de contar histórias sobre as diferentes culturas através da câmera, do meu olhar”, disse.
No entanto, este trabalho, “Existir”, é especial para ela. “Eu tenho um carinho por ele porque eu estava muito emotiva naquele momento e queria que as pessoas sentissem o que eu estava sentindo, então foi muito íntimo, eu estava triste e queria me manter positiva e que as pessoas pensassem positivo, então foi difícil fazer isso. Mas espero que eu tenha conseguido, e sinceramente eu estava com medo de mostrar meu filme para o mundo, mas foi uma coisa muito boa, porque é o que eu sempre quis fazer. A Fundação Ladima tornou isso possível e agora está divulgando para todo o mundo o que eu queria que todos vissem e sentissem, então sou muito grata por esta oportunidade”, concluiu.
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