Manifestação do Coletivo Feminista Kuña Poty em ano anterior à pandemia – Foto: acervo Kuña Poty
No ” Dia da Mulher Paraguaia ”, comemorado em 24 de fevereiro, o Kuña Poty – coletivo feminista que atua na fronteira trinacional, está promovendo um conversatório virtual como ato comemorativo, de reflexão e protesto. A ideia da atividade na internet, que está marcada para começar às 19 horas, através da página do movimento no facebook, é ir além de um ato de celebração da história do Paraguai.
“Queremos conversar sobre: como é trabalhar sendo mulher nesse contexto de pandemia? Quais são as principais dificuldades? ” As feministas objetivam debater as más condições de trabalho e falta de equidade em salários e oportunidade, passando pela dupla jornada que as mulheres enfrentam e a carestia agravada pela pandemia do coronávirus. Junto a isso, o machismo, a opressão e a violência sistemática no País vizinho.
O Kuña Poty, Coletivo Feminista organizado a partir de mulheres da província paraguaia de Alto Paraná, cuja capital a cidade fronteiriça de Ciudad del Este, objetiva a organização coletiva das mulheres para resistir, com bandeiras e ações unificadas de luta pelos seus direitos. “Somos mulheres de origens e funções diversas, organizadas. Questionamos poderes e mandatos de gênero. Somos conscientes de que vivemos em uma sociedade desigual, em um sistema patriarcal, que gera uma série de opressões e violências.”
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A celebração do “Dia da Mulher Paraguaia”, em 24 de fevereiro, se dá em comemoração ao aniversário da “Primeira Assembléia Americana de Mulheres”, reunidas em Assunção em 24 de fevereiro, no ano de 1867, com o objetivo de contribuir com a defesa da pátria paraguaia. Naquele tempo, o Paraguai se via envolvido numa guerra com a “Tríplice Aliança”, formada por Brasil, Argentina e Uruguai e fomentada em boa parte pelos interesses do império britânico à época.
Neste dia, costumeiramente, se recorda a entrega de jóias para custear os gastos com a guerra. No entanto, novas lideranças femininas paraguaias fazem uma leitura mais além do desprendimento econômico das mulheres mais abastadas à época do conflito armado. Em um texto comemorativo, por exemplo, a Coordenação de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Indigenas (Conamuri) expressa a importância de se reler o fato histórico:
“…Também tem de se lembrar das mulheres que não tinham jóias para doar, e no entanto contribuíram cultivando a terra e preservando as sementes, costurando uniformes e aplacando almas destroçadas, lavando feridas e, sobretudo, resistindo com o corpo e com o seu sangue, com o seu trabalho , a invasão inimiga e a posterior traição dos legionários. Lutadoras aguerridas, inesgotáveis, mulheres de nossa terra souberam levantar-se em meio das maiores adversidades e nos cenários mais difíceis”.
É deste exemplo histórico que sai, na atualidade, o clamor dos agrupamentos classistas do movimento feminista paraguaio para a adesão a novas lutas em defesa do direito à vida.
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