Sementes crioulas, ilustrativas da oficina de agroecologia – Foto: divulgação
Nesta sociedade, onde muitas não têm voz e não são vistas, as guardiãs de sementes lutam todo dia para serem reconhecidas. Esta opinião é de Marina Tauil, especialista em agroecologia e produção orgânica, que no final de 2020 mediou uma oficina com mulheres camponesas que, além de outros trabalhos, são guardiãs de sementes crioulas, preservando e produzindo diversas espécies nativas e de outras regiões.
“Essas mulheres são referência, elas preservam as sementes da vida. Mas não só isso, carregam junto toda a agrobiodiversidade, todo um modo de viver. A cultura que envolve as sementes são vivências, saberes e sabores.”
A oficina desenvolvida com apoio do NEA Gaia Centro Sul e transmitida pelo jornal Brasil de Fato RS e Rede Soberania, integrou a programação virtual da Feira Internacional de Cooperativismo e Economia Solidária (Feicoop), que em função da pandemia, teve programação totalmente online.
A inspiração para esta atividade foram os estudos de Marina com as guardiãs. Renilde Romanelli, Joelita David, Rosiele Ludtke e Oldi Jantsch foram convidadas para compartilhar um pouco de sua experiência.
Joelita vive na localidade de Arroio das Pedras, que fica no município de Rio Pardo (RS). Especificamente, sua terra fica no Quilombo Rincão dos Negros, que é onde produz sua agricultura orgânica. “Sou agricultura agroecológica e hoje também uma guardiã de sementes crioulas. Aqui eu faço de tudo, eu planto, colho e eu vendo.”
Rosiele é uma camponesa e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Estuda a agroecologia e vive no Recanto Fonte da Vida, no município de Paraíso do Sul (RS). Também faz parte de um coletivo de produção e comercialização de alimentos saudáveis chamado “Florescer Agroecológico”, nas feiras de Santa Maria (RS), especialmente no Feirão Colonial, projeto da Cooesperança. “Aqui a gente faz agroecologia na prática”, afirma com bastante entusiasmo.
Oldi é também uma pequena agricultora. Na sua terra de aproximadamente 10 hectares produz desde galinhas caipiras até diversos tipos de vegetais. Aprendeu com seus pais, também agricultores, que sempre se deve produzir para comer e guardar as sementes, para produzir de novo no outro ano. Por isso, mantém armazenada aproximadamente 500 variedades de sementes no porão de uma casa de mais de 170 anos de construção.
Este tesouro de biodiversidade foi acumulado através de trocas, em eventos e feiras, com outros camponeses da América Latina. Seu apelido é Tiririca, uma planta conhecida por ser muito resistente: “Nessa luta somos mesmo uma tiririca, sempre firme e segurando as pontas”, brinca.
Renilde, além de agricultora e guardiã de sementes, é também artesã, sendo presidente da Associação de Artesãs de Ibarama. Trabalha principalmente com o artesanato com a palha do milho, ministrando cursos e oficinas para grupos de homens e mulheres, mas também para o público infantil nas escolas da cidade. Além disso, se envolve com as campanhas de alternativas para o plantio do fumo, cultura muito comum na região Central do estado, e que traz diversos prejuízos para a saúde dos agricultores, tanto quanto para os consumidores.
De acordo com os estudos de Marina, e as experiências compartilhadas na live, o modo de vida e produção das camponesas se apresenta como um contraponto e uma alternativa viável ao modelo de produção dominante. Aquilo que costumeiramente se chama de agronegócio, envolve o plantio de pouca variedade de produtos, com uso intensivo de sementes modificadas que dependem de agrotóxicos e o favorecimento de comódites para exportação em detrimento de alimentos saudáveis, com preços acessíveis.
“Estas mulheres ao contrário, vivem uma relação diferente com a terra e com o território, produzem alimentos de alta qualidade, sem o uso de venenos e fortificantes sintéticos, e comercializam diretamente com a população. É um modo de vida e um projeto de sociedade, de economia e de futuro.”
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