Mesmo uma cidade de porte médio como Foz do Iguaçu reserva, para pelo menos um dos seus moradores, a impressão de o mundo ser bem menor do que ele aparenta ser. Às vezes, esta sensação desperta quando a província concede ao nativo um curioso apreço por outros nativos, semelhantes apenas pelo fato de habitarem a mesma comarca, mas completamente anônimos entre si.
É uma espécie de ligação entre seres que nada têm a ver em seus distintos cotidianos. É algo estranho, que poderia ser de fácil explicação se essa percepção aflorasse em pessoas com perfis ou hábitos semelhantes. Quem sabe moradores de um mesmo bairro, usuários de uma mesma linha de ônibus, de um mesmo banco, da padaria ou até de um elevador de condomínio.
O déjà vu (seria isso?) também poderia ser explicado por alguma religião, filosofia ou quem sabe por uma seita, cujos dogmas valorizam os antepassados, os espíritos, as almas gêmeas (e penadas), a reencarnação ou coisas afins. Mas não. Ele é misteriosamente comum, atingindo em cheio esse mortal sem perguntar sua raça, sexo ou clero.
É justamente a intromissão desse fenômeno que incomoda e tira noites de sono de uma mente cética. Seria fácil aceitá-la, caso o afeto recaísse sobre personagens “públicos” de Foz – como aquele cowboy sempre vestido com uma indumentária preta – ou sobre o garoto que insiste em avisar que Jesus está retornando.
Uma coisa é certa neste universo de incertezas. Bastava acatar ao impulso e dizer àquele desconhecido um simples “oi”. Mas é certo também que, ao tentar atender ao ímpeto, a mente vai refugar, porque ela tem a consciência da falta de um motivo palpável para a aproximação. Isso já ocorreu. E quando aconteceu restou ao homem a angústia de perder mais uma noite de sono tentando saber se outro iguaçuense teria vontade de compartilhar essa descrença.
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