Projeto documentou como a autovalorização das agricultoras mudou após começarem a anotar sua produção em cadernetas agroecológicas – Reprodução Youtube
“Tudo que a gente faz tem valor”, afirma a agricultora familiar Célia Dionísio Gomes de Souza da comunidade rural Pau de Cedro, localizada em Viçosa, na Zona da Mata de Minas Gerais. A experiência de Célia, e de outras mulheres das comunidades Córrego dos Nobres e Buieié, foi contada em vídeo, lançado na última semana, gratuitamente no canal do YouTube do Centro de Tecnologias Alternativas (CTA).
O filme é um dos resultados do projeto “Cadernetas Agroecológicas: construindo a autonomia econômica de agricultoras agroecológicas em Viçosa” – desenvolvido pelo CTA em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) – que oferece um caderno para as agricultoras onde elas anotam tudo o que foi consumido, trocado, doado ou vendido. Essa prática, que parece simples, visibiliza o trabalho feminino, seja aquele realizado dentro de casa, no quintal, na horta, na criação de pequenos animais ou na lavoura.
“O inhame, nossa, não sabia que tinha tanto valor”, disse Fátima Aparecida dos Santos Cunha, agricultora da comunidade de Córrego dos Nobres. “A gente sempre foi rural, mas com as anotações, a gente deu uma organizada, passamos a desembalar menos e descascar mais”, comenta sobre o fato de ter deixado de comprar no sacolão da cidade e passado a plantar mais variedade de comida em seu quintal.
Ela conta ainda que começou a sobrar dinheiro e que conseguiu fazer uma pequena reforma na casa.
Beth Cardoso, coordenadora do CTA, explica que a caderneta agroecológica é considerada uma tecnologia social, desenvolvida junto com agricultoras do Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas. “Além de contribuir para o monitoramento da produção e de serviços, a caderneta aumenta a autoestima e o reconhecimento das mulheres”, relata.
“A gente percebe que parte da resiliência da agricultura familiar vem dessa produção para o autoconsumo. Mesmo em uma situação de crise econômica, a agricultura familiar sempre sobreviveu, porque, principalmente, sempre produziu seu próprio alimento. E esse papel de produção de alimento é, na maioria das vezes, assumido pelas mulheres e por não ser transformado em dinheiro, fica invisível”, completa.
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