A autora Helena Silvestre “tinha de levantar a voz com este livro, pelos seus, pelos outros, por nosotras”, escreve Lucia Tennina na orelha de Notas sobre a fome – Talita Perna – Divulgação Editora Expressão Popular
Composto por crônicas, contos e poesias, o livro de Helena Silvestre é lançado Editora Expressão Popular. A obra autoficcional Notas sobre a fome, que ganhou indicação ao Prêmio Jabuti de 2020 – um dos mais importantes prêmios literários do Brasil – tem como base as vivências da autora: ativista afroindígena e originária da Favela do Macuco, na cidade de Mauá, no ABC Paulista.
Militante feminista e editora da revista Amazonas, Helena foi uma das fundadoras do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), de onde saiu em 2010 para criar o Movimento Luta Popular.
Ocupações de terra; vigílias em volta da fogueira; os sonhos; os guerreiros que carregamos dentro da gente; o específico medo gerado pelos barulhos de tiros, as palavras de sábios dos bairros e favelas que, como diz Helena, “não têm nada a ver com os sábios das universidades”. Esses são exemplos de fragmentos das histórias que permeiam as 144 páginas do livro.
Dona Francisquinha, por exemplo, personagem que aparece em mais de uma história, “era tão sábia que não houve espaço para que eu pudesse duvidar”, escreve Helena.
E continua: “As mulheres de meu povo são, há centenas de anos, oráculos que preservam antigas sabedorias em suas vozes – caladas pela força dos opressores que nos transformaram em servas ou em outdoors de propaganda para qualquer venda”.
“Este não é um livro, este é um diário, uma coleção de fatos e pensamentos”, caracteriza a autora, logo nas primeiras páginas. “Uma espécie de descrição etnográfica feita desde a fome, com fome, entorpecendo de desejo tudo que resiste a ela e à sua dor alimentada de vazio e ausência de comida”, completa.
Publicado originalmente de forma independente com o apoio do Sarau do Binho e da revista Amazonas, Notas sobre a fome ganha agora nova edição e pode ser adquirido pelo valor de R$30.
O prefácio é da antropóloga feminista equatoriana Ana María Morales Troya e a orelha do livro é assinada pela também antropóloga, crítica literária, escritora e pesquisadora das produções literárias das periferias paulistas, Lucia Teninna.
Em entrevista para a 1ª Feira Literária de Mogi das Cruzes, Helena Silvestre explicitou como o tema da fome é bastante mais abrangente que aquela fome de comida. “Ao longo dessas 31 notas, a gente vai encontrar uma tentativa minha de narrar a vida de gente como eu, a vida que eu vivo, a vida que eu vi e vejo viver”.
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