Aos 66 anos, ela é a primeira mulher africana a vencer o prêmio e leva para casa 100 mil euros. O anúncio foi feito na última quarta-feira (20) e o júri – composto por seis intelectuais conhecedores da literatura da língua portuguesa – destacou a vasta produção e percepção crítica de Paulina, bem como o reconhecimento acadêmico e institucional da sua obra. A importância que Chiziane dá em seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana e seu trabalho recente de aproximação aos jovens também foi lembrado pelos jurados.
Paulina é hoje uma das vozes da ficção africana mais conhecida internacionalmente, sendo também a primeira mulher a publicar um romance por lá, a obra “Balada de amor”. Por aqui, a editora Dublinense lançou em 2018 “O alegre canto da perdiz”, que aborda a situação precária das negras em Moçambique, e a Companhia das Letras lançou este ano, uma nova edição de Niketche: Uma história de poligamia, que conta a história de uma mulher que decide procurar as outras mulheres de seu marido, depois de descobrir que elas existem.
No ano passado, o vencedor do Camões foi o professor português Vítor Aguiar e Silva e em 2019, o prêmio foi dado músico Chico Buarque.
Trajetória – Paulina Chiziane iniciou a sua atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. As suas escritas vêm gerando discussões polêmicas sobre assuntos sociais, tal como a prática de poligamia no país. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento (1990), a autora discute a poligamia no sul de Moçambique durante o período colonial. Devido à sua participação ativa nas políticas da Frelimo – Frente de Libertação de Moçambique, a sua narrativa reflete o mal-estar social de um país devastado pela guerra de libertação e os conflitos civis que aconteceram após a independência.
Paulina vive e trabalha na Zambézia. O seu romance Niketche: Uma História de Poligamia ganhou o Prêmio José Craveirinha em 2003. Em 2016, anunciou que decidiu abandonar a escrita porque está cansada das lutas travadas ao longo da sua carreira.
Balada de Amor ao Vento 1.ª edição, 1990. Lisboa: Caminho, 2003.
Ventos do Apocalipse Maputo: edição do autor, 1993. Lisboa: Caminho, 1999.
O Sétimo Juramento Lisboa: Caminho, 2000.
Niketche: Uma História de Poligamia: Lisboa: Caminho, 2002. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Maputo: Ndjira, 2009, 6ª edição.
As Andorinhas, 2009 1ª Edição, Indico Editores
O Alegre Canto da Perdiz. Lisboa: Caminho, 2008
Na mão de Deus, 2013
Por Quem Vibram os Tambores do Além, 2013, com Rasta Pita
Ngoma Yethu: O curandeiro e o Novo Testamento, 2015.
O Canto dos Escravizados, 2017.
Assista entrevista de Paulina Chiziane, concedida à TV de Moçambique em maio de 2021
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