Muitos têm acesso aos livros com as bibliotecas públicas e escolares que democratizam a cultura literária e a leitura. Mas nas comunidades e regiões periféricas a garantia do direito ao livro é concretizado pelo trabalho das bibliotecas comunitárias, que ocupam as ruas e as vielas em muitos municípios do Brasil. Foi o que revelou a pesquisa Bibliotecas Comunitárias no Brasil: Impacto na formação de leitores (clique aqui para acessar), realizada nos 15 estados brasileiros e no Distrito Federal, que identificou como atuam esses espaços e o impacto do seu trabalho na formação de leitores.
O estudo indicou que as bibliotecas comunitárias são criadas e mantidas pela sociedade civil, com a finalidade de garantir e ampliar o acesso ao livro e à leitura em determinadas comunidades, seus frequentadores – em boa parte – participam ativamente do processo de gestão e planejamento.
Biblioteca Comunitária Indígena em Paray RJ. Foto: Miguel JR. Angelo
A amostra da pesquisa incluiu 143 bibliotecas, sendo 92 integrantes da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) e as outras 51 sem vínculo com a rede. Foi constatado que 66,5% desses espaços foram criados por coletivos, grupos de pessoas do território e movimentos sociais. A pesquisa apontou que 86,7% dessas bibliotecas estão localizadas em zonas periféricas de áreas urbanas em regiões de elevados índices de pobreza, violência e exclusão de serviços públicos. Do restante, 12,6 % estão em zonas rurais e apenas 7% em áreas ribeirinhas.
Para Victor Ramos, mediador de leitura e escritor, integrante da Rede de Bibliotecas Amazônia Literária (PA) e da RNBC, as bibliotecas comunitárias são um espaços de resistência e que fazem circular as produções das comunidades. “Elas promovem o acesso à leitura, ao conhecimento e à informação, além de potencializar a formação de novos escritores, acolhem e circulam as produções culturais e literárias de suas comunidades, atuando enraizadas e voltadas ao seu território”, analisou Ramos.
Outro apontamento do estudo é que esses espaços são acessíveis e envolvidos com suas comunidades, seus espaços são pensados para assegurar práticas de leitura compartilhada e têm acervos que priorizam o letramento literário. Segundo o estudo, as pessoas que têm acesso e frequentam essas bibliotecas gostam de ler, sabem da sua importância e têm interesse pela leitura.
Victor Ramos realiza mediação de leitura com jovens e crianças. Foto: divulgação
De acordo com o mediador de leitura, as crianças e adolescentes quando acessam a cultura literária desenvolvem várias habilidades e possibilidades. “O livro é um dos instrumentos que mais possibilita novas janelas para que a criatividade seja aflorada e ampliada. É folheando as páginas de uma histórias, que os leitores descobrem as narrativas que se entrelaçam com sua trajetória pessoal. Nesses anos de atuação, já presenciei uma infinidade de situações do qual o livro foi o motivador para a transformação de vida e o desenvolvimento pessoal de crianças e jovens” afirmou Victor.
Mais de 115 bibliotecas integram a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNC), que foi criada em 2015, para democratizar o acesso ao livro e à literatura, a formação de leitores e a promoção da leitura com a incidência de políticas públicas. A Rede Nacional está presente nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste com bibliotecas espalhadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Maranhão, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Pará e Ceará. A Rede atendeu mais de 40 mil pessoas e mais de 26 mil empréstimos, no ano de 2019.
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