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. Baleias e Golfinhos estão muito mais próximos do que se imagina. Até setembro de 2021, já foram registradas 30 espécies destes animais no litoral paulista, sendo que algumas delas são visitantes frequentes da região. A história de como esses mamíferos marinhos se tornaram alvo de estudos por pesquisadores da USP está no novo livro Baleias e Golfinhos no Litoral Paulista: estórias que contam uma bela história, do professor Marcos César de Oliveira Santos, do Instituto Oceanográfico (IO) da USP. O e-book está disponível para download gratuito neste link, no portal do Laboratório de Biologia da Conservação de Mamíferos Aquáticos (LABCMA).
Marcos César de Oliveira Santos professor e pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP – Foto: Divulgação/IO USP
A obra procura desmistificar a presença de cetáceos — termo técnico que reúne os golfinhos e as baleias — na costa brasileira, com o objetivo de promover a preservação desses animais. Em uma linguagem didática, dirigida ao público geral, são apresentadas as histórias por trás das dos 70 artigos científicos produzidos por Marcos ao longo dos 20 anos que ele estuda o assunto. Ao todo, são 35 capítulos que mesclam a apresentação das espécies que frequentam o litoral de São Paulo com experiências pessoais, fornecendo ao público o que o autor chama de uma “visão humanizada sobre a pesquisa”, com a proposta de “olhar nos olhos de quem vai ler”.
O pesquisador relata que o tema nem sempre foi de fácil alcance. Segundo ele, por muito tempo os estudos em biologia no Brasil estavam focados em ambientes terrestres, deixando de lado a pesquisa sobre os oceanos. “O mar ficou esquecido por um tempo, porque é como se, ao lado desses cientistas, tivesse um barril de ouro (os biomas terrestres brasileiros), à disposição, enquanto que o mar estava lá longe, desconhecido”.
Esse cenário começou a mudar somente na década de 1960, quando foram descobertas as reservas de óleo e gás em ambiente marinho. Marcos explica que, a partir disso, surgiram cursos como o de oceanografia e de geologia para o mar. No entanto, outras áreas de estudo com menor interesse econômico, como a dos mamíferos marinhos, continuaram a receber menos atenção. Por essa razão, quando ele começou sua trajetória acadêmica, ainda na graduação em biologia, pouco se falava em cetáceos.
Para que outros estudantes não tivessem essa mesma experiência, surgiu a ideia de escrever Baleias e Golfinhos no Litoral Paulista. “Temos a missão de trazer o conteúdo do oceano para a sala de aula, para os jovens não passarem o que passei, quando eu queria estudar baleias e golfinhos e não tinha como, não tinha uma referência, uma orientação e acabei me tornando autodidata”. A obra traz então uma perspectiva ampla sobre os trabalhos produzidos sobre o assunto, abordando desde as pesquisas pioneiras de João de Paiva Carvalho e Paulo Sawaya até as iniciativas de preservação nos dias atuais.
Páginas do livro sobre cetáceos no litoral paulista – Imagem: Reprodução/ IO USP
A baleia-orca é uma das espécies de cetáceos odontocetos que pode ser avistado no litoral paulista. Apesar da reputação deste animal, Marcos alerta que as orcas não são “assassinas”. Ele ressalta inclusive que “não são todas as populações de orcas que se alimentam de animais de sangue quente. Uma proporção considerável delas tem a dieta restrita principalmente a peixes ósseos, cartilaginosos e lulas” – Foto: Marcos Oliveira Santos/ IO USP
. Os cetáceos são um conjunto de mamíferos marinhos que dividem características fisiológicas em comum e que evoluíram do mesmo ancestral terrestre dotado de quatro patas, há cerca de 55 a 50 milhões de anos. Esses animais estão divididos em dois grupos: aqueles que apresentam cerdas bucais, chamados de misticetos, e os que possuem dentes, chamados de odontocetos. Entre os misticetos, estão algumas baleias, como a cachalotes e a jubarte, enquanto que entre os odontocetos, estão os golfinhos, os botos, as toninhas, e as orcas.
A importância dos cetáceos para os ecossistemas marinhos ainda está sendo descoberta, mas o pesquisador explica que alguns cientistas já conseguiram comprovar alguns serviços ecossistêmicos que as baleias e golfinhos prestam. “Eles são importantes para gerar o oxigênio que a gente respira, manter a pesca produtiva do jeito que a gente tem nos dias atuais e também para a manutenção da diversidade biológica”.
O litoral paulista tem um ponto privilegiado para se avistar botos em terra firme: o estuário de Cananeia. Ao sul da costa do estado, o estuário permite que visitantes avistem os animais sem precisar entrar na água e incomodá-los.
O golfinho-rotador costuma ser retratado como um animal exclusivo de Fernando de Noronha, mas o autor do livro explica que isso não é verdade. Os animais já foram registrados entre o norte de Ubatuba e o sul do Estado do Rio de Janeiro – Foto: Marcos Oliveira Santos / IO USP
O autor destaca que a continuidade das visitas dos cetáceos à costa brasileira depende da mobilização da população e do esforço do poder público em protegê-los. Para isso, é necessário ter conhecimento sobre o comportamento desses animais: as baleias, por exemplo, são animais avessos a ruídos, então a recomendação ao avistar esses animais é que as pessoas mantenham o silêncio e nunca tentem se aproximar — nem a nado, nem em embarcações. Mesmo que a intenção seja de ajuda, o pesquisador explica que a proximidade de seres humanos é um fator estressante para o animal. Essa recomendação também é válida para os golfinhos e as toninhas, que não devem ser tocadas em nenhuma hipótese.
Baleias e golfinhos no litoral paulista: Estórias que contam uma bela história é a primeira obra de uma série de livros sobre os cetáceos no litoral paulista. Em 2022, Marcos César de Oliveira Santos pretende lançar um novo material.
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