Lygia Fagundes Telles morreu aos 98 anos, de causas naturais – Divulgação
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A literatura brasileira perdeu neste domingo (3) uma de suas mais emblemáticas representantes: a paulista Lygia Fagundes Telles. A escritora morreu em sua residência, de causas naturais, aos 98 anos.
No campo das premiações, venceu honrarias como o Prêmio Camões, considerado o mais importante da literatura em língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra. Foi reconhecida quatro vezes pelo Prêmio Jabuti e, na França, ganhou o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros.
As formigas, conto de Lygia Fagundes Telles
Antes do Baile Verde, conto de Lygia Fagundes Telles
Lançado por Lygia em 1954, Ciranda de Pedra é um romance de formação focado em Virgínia, a caçula de três irmãs que acaba separada das demais quando os pais se divorciam e somente ela vai morar com a mãe. Sob o ponto de vista da menina, os dramas da família são apresentados ao leitor, com temáticas como traição, morte, sexualidade feminina e loucura. É, de certo modo, uma crítica à família tradicional.
O livro foi o primeiro romance publicado pela escritora, considerado pelo crítico Antonio Candido como o símbolo da maturidade literária de Lygia, à época com 31 anos. A obra se tornou uma das mais aclamadas pelos leitores da autora e, anos depois, inspirou duas novelas homônimas na TV Globo, uma em 1981 e outra em 2008.
Lygia Fagundes Telles Lygia foi a terceira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1985 – Divulgação
Segundo romance de Lygia Fagundes Telles, Verão no Aquário, de 1965, rendeu à escritora seu primeiro Prêmio Jabuti. A obra acompanha a protagonista Raíza em um jogo temporal que mistura o presente da jovem aos traumas de seu passado, como as memórias de um pai que entregou sua vida ao alcoolismo e de uma mãe a que se mantinha alheia a ela.
Lygia volta a tocar em temas já trabalhados em Ciranda de Pedra, como uma forma de expor as contradições da instituição familiar, considerada modelo pela sociedade brasileira da época.
Antes do Baile Verde reúne 18 contos, definidos pelo crítico Paulo Rónai como “pequenas obras-primas”, escritos por Lygia entre 1949 e 1969 e lançados na coletânea em 1970.
De conflitos amorosos a histórias macabras, a obra expõe a versatilidade da escritora, narrando aventuras e desventuras de personagens das mais variadas estirpes, desde um motorista de caminhão até uma uma prima donna de ópera.
Foi com o livro que Lygia ganhou o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, em Cannes, na França.
Lançado em 1973, em meio à ditadura militar brasileira, As Meninas é uma das obras mais reverenciadas de Lygia Fagundes Telles. A autora foi corajosa ao desafiar a censura de um dos momentos de maior repressão do regime militar e descrever em detalhes uma sessão de tortura, o que fez com que o livro se tornasse um marco na literatura brasileira do período.
O romance acompanha três jovens universitárias de personalidades e origens distintas: a burguesa Lorena, a dependente química Ana Clara e a revolucionária de esquerda Lia. As histórias das personagens renderam a Lygia o Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro e APCA da Associação Paulista dos Críticos de Arte. Atualmente, o livro é leitura obrigatória do vestibular da UFRGS.
Seminário dos Ratos é considerado um ponto desviante da literatura de Lygia Fagundes Telles, com a bem-sucedida entrada da escritora no campo do fantástico. Lançado em 1977, o livro reúne 14 contos nos quais a autora lança mão de todos os diferentes recursos narrativos — alterna tempos, passa da primeira à terceira pessoa, aposta no discurso indireto — para tratar de temas como amor, velhice, poder e morte.
É uma das obras mais populares da escritora, tendo lhe rendido o prêmio PEN Clube do Brasil.
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