. Em 1514, o rei Dom Manuel, o Venturoso, apresentava-se ao mundo como o monarca de um grande império que se estendia do Oriente à América.
Era a curta Idade do Ouro de Portugal que durou menos de um século. O monarca se intitulava “rei de Portugal, dos Algarves, d’aquém e d’além mar em África, senhor da Guiné e da conquista, navegação e comércio da Etiópia, da Arábia, da Pérsia e da Índia.
Tanto mar, tantas terras, tanto poder e Portugal decidiu intervir com peso na política internacional. Antes de tudo, quis dar ao mundo uma demonstração de riqueza. Mandou a Roma uma embaixada faustosa para deslumbrar o mundo.
O cortejo português saiu da Praça do Povo, em Roma, em direção ao Vaticano. À sua frente desfilavam 300 cavalos enfeitados com mantos de brocados de ouro, montados por cavaleiros vestidos da mais pura seda do oriente.
Seguia-os uma multidão de portugueses que moravam em Roma. Padres, militares, mercadores e parentes dos embaixadores. Sobre cavalos árabes com arreios esmaltados de ouro e pérolas, apresentavam-se 50 fidalgos, adornados com chapéus de plumas bordados com aljôfar, colares e anéis de ouro e pedras preciosas, fitas e fios de seda, vestimentas de veludo e renda, portando armas e escudos artisticamente trabalhados. Besteiros, acompanhados da guarda de arqueiros do Vaticano, fechavam a primeira parte do desfile.
Músicos abriam a segunda parte e preparavam a multidão para as grandes sensações. Um elefante, animal que Roma não via desde os tempos do Império, coberto por um grande tapete oriental, carregava um cofre que continha o pontifical que Dom Manuel oferecia ao papa Leão X. Uma onça domesticada sobre um cavalo da Pérsia e dois leopardos em gaiolas douradas vinham a seguir.
Não foi possível apresentar o rinoceronte que morreu durante a viagem e depois empalhado. Nem o carregamento de pimenta malagueta, cravo, canela e gengibre que vinha numa nau que naufragou.
No final do desfile, o embaixador Tristão da Cunha acompanhado de nobres, prelados e altos funcionários portugueses. Das ruas, janelas e telhados de Roma, ao som de canhões e dos sinos, uma multidão apreciava o desfile. No Castelo de Sant’Angelo, o Papa em pessoa recebeu a embaixada.
Este acontecimento de março de 1514 é emblemático do apogeu do “mundo que o português criou” no dizer de Gilberto Freyre. Depois, os séculos de decadência e as marcas deixadas nesta área do planeta, visíveis na burocracia, no gosto pelo fausto e mordomias e no mundo de aparências, mesmo quando já não há o que mostrar como na época dos descobrimentos.
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