Jorgelina Tallei, docente de espanhol e pesquisadora de portunhol, fala sobre a dinâmica das linguagens de fronteira – Foto: reprodução
Para quem mora na fronteira, hablar portunhol é um exercício quase que diário. Mas afinal, o portunhol pode ser considerado uma língua? Jorgelina Tallei que é argentina e docente de espanhol na UNILA diz que o portunhol “é livre”. “É essa língua que se mistura o tempo todo. Eu me identifico com o portunhol, então, portunhol é uma língua porque eu me identifico com ela.”
Veja a entrevista completa:
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Se pensarmos que uma língua exige normativa, diz a pesquisadora, então o portunhol não pode ser considerado uma língua. Mas escritores como Douglas Diegues e pesquisadores da área o consideram uma língua. “As línguas são vivas e circulam. Elas são criadas e recriadas. Colocar em uma ‘caixa’ é normatizar, mas o portunhol foi criado para ser livre.”
Quando as pessoas falam em portunhol, ressalta Jorgelina, elas têm por objetivo comunicar-se. “Portunhol é a língua das relações, porque permite a comunicação entre as pessoas. Tem que se pensar o portunhol como um momento de compreensão. É um movimento de linguagem”, afirma. Por isso, em cada região da extensa faixa de fronteira brasileira haverá diferenças. “Não há um portunhol, há portunhóis”.
Português e espanhol são línguas que compartilham vocabulário, mas a mistura é comum em muitas fronteiras como o inglês e o espanhol (spanglish ou espanglês), que são muito diferentes entre si. “Quando essas línguas entram em contato há mistura de línguas. Nas fronteiras é inevitável que isso aconteça. Porque essa é a dinâmica própria da fronteira.”
Para Jorgelina, o volume de pesquisas na academia “ainda é tímido”, porque o portunhol sempre esteve “à margem”, mas o tema começa a ganhar um pouco mais de visibilidade com a realização de eventos e entrevistas. “Se está falando cada vez mais sobre portunhol. Isso faz com que ele ganhe movimento, tenha cada vez mais pesquisadores interessados.”
Essa nova língua, que é motivo de muita discussão, já tem seus desdobramentos: o portunhol selvagem, que além do português e do espanhol ainda agrega o guarani. O termo portunhol selvagem está ligado ao movimento literário e surgiu com Douglas Diegues, escritor que iniciou sua produção seguindo o estilo de Wilson Bueno, o primeiro a utilizar essa linguagem no romance Mar Paraguayo, lançado em 1992. Diegues define o portunhol selvagem como “movimento de rebeldia”. O portunhol selvagem também pode agregar outros idiomas, como o árabe, bastante presente na Tríplice Fronteira. “Depende das pessoas que moram na fronteira e de como as línguas circulam”.
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