Laura Amato é professora do curso de Letras – Espanhol e Português como Línguas Estrangeiras e pesquisadora da área de Letras e Linguística na Unila. (Foto: reprodução)
Ela diz que a educação em cidades de fronteira ainda é pouco pesquisada. “A gente tem muitos estudos sobre questões linguísticas, mas a educacional ainda é pouco estudada”. Segundo ela, o currículo no Brasil “sempre foi pensado para o centro e nunca para o interior”. Como exemplo, ela cita o currículo preparado pela Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP), da qual Foz do Iguaçu faz parte. “Um currículo educacional específico, que pensa a região, deveria ter pontos para tratar dessa população fronteiriça. Em análises que a gente fez, não existe absolutamente nada [sobre isso]”, comenta Laura. “Essa população é totalmente esquecida, inclusive no currículo regional. Não se fala sobre as crianças na fronteira.”
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. O desafio do ensino na fronteira, comenta a pesquisadora, passa, necessariamente, pela formação dos professores. “A gente não pode esquecer que a educação dessas crianças depende da formação adequada de professores e depende também da reelaboração de um currículo de formação de professores nas universidades”, analisa. Dos cursos de licenciatura e de pedagogia oferecidos no município, somente dois têm uma disciplina voltada para a fronteira.
A diversidade cultural e de línguas pode ser uma barreira se você não sabe trabalhar com a riqueza cultural e linguística que essas crianças têm
“A diversidade cultura e de línguas pode ser uma barreira se você não sabe trabalhar com a riqueza cultural e linguística que essas crianças têm”, aponta Laura. “A barreira não está na criança, está no professor que não conhece essa diversidade.” Uma das formas de quebrar essa barreira é deixar que as crianças relatem suas experiências culturais, seus conhecimentos, em sua língua. .
O acolhimento da criança com seu universo linguístico e cultural, mais que uma concessão, é um dever da escola, avalia a pesquisadora. “As crianças imigrantes têm esse direito de reforço linguístico. Na resolução, está claro que a criança migrante tem que ser matriculada, na série da idade dela, mesmo quando chega sem documento. Se a escola percebe que há algum problema de acompanhamento, faz uma prova para ser nivelada e, a partir disso, a criança tem que ter um acompanhamento da escola. É um direito que a criança tem e que está sendo muitas vezes negado.” .
O primeiro levantamento do número de alunos não brasileiros matriculados nas escolas públicas de Foz do Iguaçu foi realizado em 2017. Naquele ano, foram identificados 300 alunos, número que dobrou em 2018, recorda Laura Amato. Isso demonstra, diz ela, que a reflexão sobre a questão da imigração é recente no município e que, embora ainda não tenha um currículo que contemple crianças imigrantes, a cidade possui um protocolo que começa a ser implementado nas escolas. .
Esse protocolo foi criado pelo grupo de pesquisa “Linguagem, política e cidadania”, com os gestores de educação de Foz. O protocolo traz um breve levantamento sociolinguístico e orientações sobre como a escola deve acolher essas crianças. “Esse protocolo é para que a escola saiba acolher melhor essa criança, trazer a língua dessa criança e procurar ajuda nos meios adequados, inclusive a UNILA é um dos meios propostos no protocolo e que pode auxiliar no acolhimento das crianças e na formação dos professores.”
Na entrevista, que pode ser assistida no canal da UNILA no YouTube, a professora Laura Amato também fala sobre barreiras e impactos da imigração na educação; programas de formação para professores; diferenças entre escolas públicas e privadas em relação a imigrantes; e estratégias de acolhimento.
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