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Ela mora ali, protegida pelas lindas árvores, cujas copas, de folhas já estão tingidas de vermelho, sobressaem-se das demais, quando observadas de um ponto mais alto, como esta esquina da rua Santos Dumont. Muitas vezes, por aquela travessa passei bem devagarinho, querendo esticar o caminho sob o túnel formado pelas ramas frondosas.
Naquela manhã fazia muito frio e Foz do Iguaçu estava mergulhada em bruma, quando Vanusa pisou a calçada e contemplou a paisagem estrangeira de sua rua. Os sons naturais daquele horário pareciam distantes. Não era possível distinguir as formas, a cinquenta metros de distância os prédios eram manchas turvas. Um vulto surgiu no fim da rua, andando em sua direção. Ela continuou parada em frente de sua casa, onde esperava sua carona. Passos firmes e cadenciados, mãos desprotegidas oscilando ritmadamente ao lado do corpo, cabelos orvalhados, expressão séria, olhar à frente, o homem passou por ela e sumiu-se outra vez na neblina. Victor parou à sua frente, abrindo a porta do carro, para que ela entrasse:
– Vamos logo, que a Maria Louca não espera! – zombou ele referindo-se aos ânimos da chefe.
Brincaram, mas sabiam que tinham razões para preocupações, o dia seria trabalhoso e dificil. E, tantas foram as peripécias daquele expediente, que ao final da tarde, cansada, Vanusa decidiu dar-se o direito de um longo banho, cerveja gelada e um delicioso e calórico jantar, diante da televisão, sem nem pensar em faculdade. No entanto, mal entrara em casa, o interfone tocou. Reclamou por ter de vencer doze degraus de escada, atravessar 15 metros de pátio para receber sabia-se-lá que diabo de entrega. Havia um envelope enfiado nas grades do portão e ninguém por perto. Abriu-o e leu as letras rabiscada em azul:
Mulher, Por seus olhos, pelo seu cheiro, pelo seu calor, Hei de passar indefinidamente, Sem nunca ser notado? Eu, que, cativo das ondulações do seu riso, Das nuances de seu perfume, Adivinho seus passos Celebro sua alma… Anseio por seu olhar? Nesta manhã, marchei para você Que não me viu, mesmo assim, Enquanto sob os plátanos orvalhados Entregando-me, eu passava Na névoa, escondido, você olhava… Mas, era através de mim.
Que é isso gente? – Ela falou consigo mesma, incrédula de que aquilo fosse para ela, embora constasse seu nome no envelope. Quem será que escreveu isso? Pensava, já franzindo a testa. Só pode ser sacanagem! Abriu o portão e espiou a rua. Ao lusco-fusco, o movimento de carros aumentara, as pessoas voltavam para suas casas, tudo normal. Exceto aquele aceno insistente. Ele estava lá, encostado ao tronco de uma árvore, chamando-a.
A noite caiu, no céu límpido a lua fez uma festa que ofuscou estrelas.
Sob os plátanos, Vanusa sorria.
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