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Foto: Wikimedia Commons
. Em um estudo publicado na revista Science, um grupo de cientistas da Dinamarca, Reino Unido e Espanha, liderados pelo ecologista Evan Fricke na Universidade Rice, nos Estados Unidos, investigou os hábitos alimentares de mamíferos terrestres dos últimos 130 mil anos. Ao analisar a cadeia alimentar desses animais durante o período conhecido como Era do Gelo, os cientistas descobriram um grande declínio no número de mamíferos, causado principalmente por uma crise em sua rede de alimentação, também conhecida como rede trófica.
. Utilizando inteligência artificial, a partir de dados das similaridades morfológicas das espécies atuais e informações sobre as interações entre predadores-presa, foi possível reconstruir as redes alimentares de mamíferos terrestres dos últimos 130 mil anos. O que se descobriu foi um declínio maior do que o esperado para essas espécies, causado, possivelmente, pela ação humana. “Ao longo do processo biológico, do processo evolutivo, existe perda de diversidade. Se a gente considerar hoje a diversidade atual de mamíferos, temos aproximadamente 6.000 espécies viventes de mamíferos, e o registro indica que os números são quatro a cinco vezes maiores do que esse em termos de diversidade. Ou seja, eventos de extinção ocorrem o tempo inteiro na natureza, mas o que está acontecendo hoje é um processo acelerado, por conta das atividades humanas”, conta Alexandre Percequillo, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP.
De acordo com Juliano Bogoni, pesquisador no Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre, também da Esalq, a ação humana provavelmente se fez presente da rede trófica desses animais. Sobre a cadeia trófica, ele esclarece: “Basicamente, é uma relação de dieta entre as espécies. Porque há muitas interações ecológicas, mas uma cadeia trófica é a relação entre uma espécie e outra no sentido de predação e controle”.
Conforme explicam os especialistas, essas redes formam a base de todo o nosso ecossistema, equilibrando as populações de predadores e presas no ambiente, o que, consequentemente, permite uma maior diversidade de espécies. E as relações entre as espécies são tão delicadas que o desaparecimento de uma pode afetar toda a cadeia alimentar do meio, e consequentemente, todo o ecossistema ao redor. “Esse enfraquecimento sistemático das cadeias redes tróficas depende muito de qual espécie que está saindo dessa rede. Se é uma que tem muito mais interações, o declínio das interações é muito mais exponencial. Se é uma espécie mais terminal nessa rede de interações, então obviamente aquele declínio dos links dentro da rede trófica é menos prejudicial”, aponta Juliano.
Para ambos os pesquisadores, estudos como esse são importantes para que se possa não só identificar quais espécies estão ameaçadas de extinção, mas também quais delas têm importância vital para o equilíbrio do ecossistema. Por isso, a partir desses dados, podemos planejar a preservação dessas espécies. “A gente precisa tirar do papel todas essas diretrizes que foram postuladas pelas Nações Unidas, determinando que de 2021 a 2030 estaríamos na década da Restauração. Precisamos fazer acontecer os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU, que têm sido cada vez mais cobrados”, enfatiza Alexandre.
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