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. Quando eu era menina, era apaixonada pela linha do trem. Punha os ouvidos nos trilhos para ouvir
Quando ele passava, eu ia junto com ele em meus pensamentos. Viajar, viajar, sentir o vento batendo no rosto, Ver o mundo da janela do trem.
Quando cresci um pouco, aprendi a bordar com linhas coloridas. Primeiro uma casinha, depois uma flor.
E durante muito tempo na minha vida, fiz casinhas, florzinhas, montanhas, plantas e bichos com linhas das mais variadas espessuras e cores.
Muitas vezes espetei o dedo com a agulha e de repente, qualquer linha se tornava vermelha.
Quando cresci mais um pouco, comecei a fazer crochê. Fiz muitos biquinhos; primeiro com linhas de bordar, depois com linhas de crochetar.
E toalhinhas, tapetes e, por último, casaquinhos de lã e sapatinhos.
Quando entrei no grupo escolar, conheci as linhas do caderno. Elas registravam a tabuada, as caravelas de Colombo,
os nomes dos rios e todos aqueles pensamentos que eu tinha sobre as coisas.
Era a parte da qual eu mais gostava: soltar o lápis pelas linhas e viajar com personagens para o país da fantasia
Nas primeiras linhas do primeiro caderno registrei com letra meio disforme, apertada, o meu nome e minha primeira frase: a pata nada.
Quando fui para o colégio, usei todas as linhas: de bordar, de crochetar, de tricotar, de sonhar, de criar, de inventar.
Lá também ouvi que mulher tinha que ter linha. Mas a gente já tinha tantas! Que linha seria essa?!
Depois conheci as linhas de pensamento, as linhas de fé, as linhas de conduta, as linhas de sucessão, as linhas de pescar, as linhas da mão, as linhas de crédito, as linhas cruzadas, as linhas de tiro
e tantas outras linhas complexas, complicadas, esdrúxulas, que só não enovelaram minha cabeça, porque ela estava cheia de boas lembranças das linhas de bordar, de crochetar, de tricotar, de sonhar
e da linha do trem que trazia a locomotiva e seus vagões, fascínio de uma vida toda, que me levava a viajar pelo mundo, sem sair da linha da imaginação.
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