“O livro estava em cima de uma mesa demasiado alta para mim. Eu tapava os ouvidos enquanto lia. Mas já tinha ouvido contar histórias assim em silêncio. Não as do meu pai, isso não. Mas às vezes, no inverno, quando estava à janela no quarto aquecido, o redemoinho de neve a cair lá fora me contava histórias em silêncio. É verdade que nunca consegui perceber bem o que ele me contava, porque muita coisa nova se metia sem parar e em grande quantidade entre a matéria já conhecida. Mal eu me tinha ligado mais intimamente a um grupo de flocos, percebia que ele tinha de me entregar a um outro que de repente o invadia. Mas agora “tinha chegado o momento de seguir no redemoinho das letras as histórias que me tinham fugido à janela. As terras distantes que nelas encontrava envolviam-se, como os flocos, em jogos familiares umas com as outras.
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