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Ato grevista, em Chigaco, EUA, 1886. (Foto: reprodução internet)
A Revolução Industrial, como todo processo histórico, começou a gestar-se de forma paulatina, mas podemos marcar seu início na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra, com o surgimento da produção com maquinários, favorecida por sua vez pela invenção da máquina a vapor, quase cem anos antes.
A revolução que se iniciou com a mecanização das indústrias texteis e o desenvolvimento dos processos de obteção de ferro, se estendeu para a maior parte da Europa e aos Estados Unidos da América.
Também foi favorecida a expansão do comércio, pela melhoria das estradas, e um pouco mais tarde, pelo nascimento do transporte ferroviário.
A partir deste momento, as fábricas começaram a atrair grandes massas de trabalhadores desempregados no campo, desta maneira se modificou a forma de trabalho e o operário deixou de ser dono das ferramentas e do objeto produzido.
Mas essas mudanças também trouxeram consigo péssimas condições laborais. Segundo diversos relatos históricos, a situação do trabalho nas fábricas e a vida dos bairros operários escandalizou às testemunhas da época. Os registros existentes se referem a jornadas laborais de mais de dezesseis horas de trabalho em ambientes sem ventilação, em condições nulas de segurança e sob o controle de capatazes que castigavam com dureza a quem não cumpria com as metas estabelecidas.
As condições de higiene e salubridade eram deploráveis. Por outro lado, a incorporação de trabalhadores se realizava indiscriminadamente entre homens, mulheres e crianças. Também os bairros e suas moradias eram insalubres. A todo este conjunto de problemas se denominou como “A questão operária”.
Em 1810, o pensador do socialismo utópico, considerado o pai do cooperativismo, Robert Owen, defendeu que a qualidade do trabalho de um operário tem um relação “diretamente proporcional á qualidade de vida do mesmo”.
Alguns anos depois, lançou-se o popular lema: “Oito horas de trabalho, oito horas de recreação e oito horas de descanso”.
Já para 1830 a demanda pela redução do horário de trabalho era uma solicitação generalizada nos EUA.
Mas as condições de trabalho continuaram as mesmas, até que a “American Federation of Labor” (Federação Estadounidense do Trabalho), resolveu durante a celebração de seu IV congresso, realizado em 17 de outubro de 1884, em Chicago, que desde o Primeiro de Maio de 1886 a duração legal da jornada de trabalho deveria ser de oito horas. . VEJA NAS IMAGENS UM RESUMO DO TEMA:
Também advertiram que desenvolveriam uma greve generalizada, caso não fosse acatada tal reivindicação. Nesse marco, recomendou a todas as uniões sindicais que requisitassem leis nesse sentido em suas respectivas jurisdições.
. Foi nesse sentido que o presidente dos EUA, Andrew Johnson promulgou em 1886 a Lei Ingersoll, que estabeleceu a jornada de oito horas, ainda que também contivesse cláusulas que permitiam aumentá-la a 14 e 18 horas.
. Esta norma não foi aceita pelas associações patronais. Isto produziu efeito entre os trabalhadores, onde começou a gestar-se a grande greve.
. Os operários dos EUA começaram a se organizar, até que, chegada a data do prazo estabelecido no IV congresso da Federação Estadunidense do Trabalho, paralisaram o país produtivo com mais de cinco mil greves.
. Em 1 de maio de 1886, uns 200 mil trabalhadores começaram a greve, enquanto que outros 200 mil conquistaram as oito horas com a simples ameaça de parar.
. Segundo diversos repórteres, em Chicago, onde as condições dos trabalhadores eram piores do que em outras cidades, as mobilizações prosseguiram nos dias 2 e 3 de maio.
. Um duro episódio da luta foi o incidente que se produziu em uma das poucas empresas que não parou naquele dia, a fábrica de materiais agrícolas de Mc Cormick, que contratou fura-greves.
. No dia 2 de maio se realizou uma concentração dos operários despedidos de Mc Cormick para protestar por cerca de mil e duzentos demitidos e contra os brutais atropelos policiais.
. Enquanto se celebrava o comício na frente da fábrica, e quando estava na tribuna o anarquista August Spies soou a sirene de saída de um turno de fura-greves, e começou uma batalha campal. A polícia, sem aviso, pôs-se a disparar a queima roupa sobre a multidão, produzindo seis mortos e várias dezenas de feridos.
. Spies publicou de imediato um manifesto no “Arbeiter Zeitung” (jornal ligado ao movimento): “Se se fuzilam aos trabalhadores responderemos de tal maneira que nossos amos vão recordar por muito tempo”.
. Assim mesmo, convocou um ato de protesto para o dia seguinte, na praça Haymarket.
. Se conseguiu a permissão para fazer o ato às 19h30 no parque Haymarket. Os acontecimentos que ali se sucederam são conhecidos como a “Revolta de Haymarket”.
. “Grandes oradores estarão presentes para denunciar as últimas atrocidades cometidas pela polícia, os disparos em nossos companheiros de classe, ontem pela tarde.”, expressava um dos folhetos convocando para o comício. .
FOGO INDISCRIMINADO . A concentração congregou a mais de 3 mil grevistas, mas no final do ato , quando restavam cerca de 200 pessoas, um destacamento de 180 policiais fortemente armados se apresentou e um oficial deu a ordem de disparo. . Uma bomba explodiu e a polícia transformou a Haymarket “em uma zona de fogo indiscriminado, houve mortos e mais de 200 feridos”. . Se desatou então uma ofensiva contra os anarquistas. Se fecharam os jornais, casas e locais de concentração operária foram invadidas e foram proíbidos os comícios. .
Em Chicago se encheram o cárcere de milhares de revolucionários e grevistas. Nesse cenário, arrolarama a toda a equipe de imprensa do “Arbeiter Zeitung” e a polícia deteve a oito anarquistas: George Engel, Samuel Fielden, Adolf Fischer, Louis Lingg, Michael Schwab, Albert Parsons, Oscar Neebe e August Spies. Todos eram membros da Associação Internacional do Povo Trabalhador. .
Segundo diversos registros, o julgamento foi totalmente manipulado. Foram acusados de “cumplicidade de assassinato”, ainda que nunca se pode provar nenhuma participação ou relação com o incidente da bomba e que a maioria não esteve presente e, ainda, entre os que estavam presentes, um era o orador no momento que a bomba foi lançada. . Ao final do mês de maio, vários setores patronais estadunidenses já haviam cedido a outorgar a jornada de oito horas de trabalho a várias centenas de milhares de operários.
. Mas os oito anarquistas foram condenados a morte. Ao aproximar o dia da execução, trocaram a sentença de Oscar Neebe, Samuel Fielden e Michael Schwab para prisão perpétua, e Louis Lingg apareceu morto na cela. .
A SEXTA SINISTRA Ao meio-dia de 11 de novembro de 1887, Spies, Engel, Parsons e Fischer foram conduzidos à forca. Na caminhada, os quatro entoaram a “Marselhesa Anarquista”. Este dia seria recordado depois como “a sexta negra”. . O episódio foi retratado em forma memorável por José Marti, na época, correspondente do jornal La Nación, de Buenos Aires: “Saem de suas celas. Se dão as mãos, sorriem. É lida a sentença, prendem as mãos às costas, juntam os braços ao corpo com uma faixa de couro e os põem uma mortalha branca como a túnica dos confessos cristãos. . Abaixo, está sentados em fileiras de cadeiras, diante do cadafalso como em um teatro. . Firmeza no rosto de Fischer, mensagem no de Spies, orgulho no de Parsons, Engel faz uma piada a propósito de seu capuz. Spies grita: “a voz que vais sufocar será mais poderosa no futuro que quantas palavras pudera dizer agora”. Baixam-lhe os capuzes, logo um sinal, um ruído, a trampa cede, os quatro corpos caem e se balançam em uma dança espantosa”.
. Em julho de 1889, a Segunda Internacional instituiu o “Dia Internacional do Trabalhador” para perpetuar a memória dos feitos de maio de 1886, em Chicago.
. Esta reivindicação foi adotada e promovida pela Associação Internacional dos Trabalhadores, que a converteu em demanda comum da classe operária de todo o mundo. .
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