Cachorro, Café e Ovo, crônica de Claudio Siqueira

Texto publicado originalmente em redes sociais do autor. Faz parte da série “Crônica todos os dias”.

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A coisa mais triste que aconteceu quando separei foram duas: deixar meu cachorro e a minha máquina de café expresso.
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Com a vida nova de solteiro precisei aprender a passar o café, coado. Foi uma experiência dolorosa. Para quem idolatrava o expresso como expressão maior da cafeína consagrada, ter de coar o café era um retrocesso. Mas como canta o rezo dos caboclos: “a dor vai passar”, após aulas no YouTube para aprender a passar o café, descobri não apenas que o ritual do café coado já estava em mim desde o nascimento como que o café coado é um perigo, a gente não apenas aprende a apreciar o café como a ter nele um princípio filosófico de vida.
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Toda manhã sento à frente do meu PC, coloco minha lista de notícias tocar, alternando rezos, pontos de exú, heavy metal, deathcore e EBM, e deixo fluir por mim o axé do caboclo do café. Eu amo a brasilidade.
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A segunda coisa que vivenciei no meu processo de desenvolvimento humano após a separação foi aprender a cozinhar ovo. Engana-se aquele que crê que cozinhar ovo é apenas colocar a coisa na água e deixar ferver. Há tanto um processo e ritual prévio, como o durante e o depois.
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Ao iniciar minha senda no ovo cozido, busquei aulas no YouTube como fiz com o café. Não encontrando algo com metodologia decente, decidi aprender pela experiência da tentativa e erro, da observação e meditação.
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Ao cozinhar um ovo precisamos antes averiguar a cor da casca. Ovo branco cozinha mais rápido. Ainda não desenvolvi a equação de proporção de tempo de cozimento do branco para o amarelo, mas está na lista de estudos. Isso aplicando à vida nos ensina a observar o meio, não nos iludir com a emoção, pois enganoso é o coração do homem (Jeremias 17:9). Temos que respeitar a ancestralidade buscando nos antigos o aprendizado da experiência para não repetirmos os mesmos erros. É a vida da História.
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Pela experiência da tentativa, temos que calcular o tempo de cozimento tabelando a gradação da consistência da gema. Aqui em casa para a gema ficar mole mas não líquida, leva oito minutos. Na vida precisamos ter a alma tranquila e o sangue frio para obtermos resultados favoráveis após executar o planejado. É uma relação dialética do objeto com o meio, isso é marxismo!
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Ao fim, para descascar o ovo, será não apenas exigido a paciência de um monge como a habilidade de um crupiê. Dedos leves e firmes e foco para encontrar a pelezinha abaixo da casca é o diferencial do profissional. Ao encontrar a pelezinha e seguir por ela, você encontra o fluxo de mana que leva à realização com perfeição daquilo que parece não ser provável. Isso é magia e espiritualidade.
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Enfim, tudo nesta vida é um aprendizado, basta querermos. Peter Carroll diz que as coisas são o que são e significam o significado que damos a elas. Em tudo devemos dar graças, se eu não tivesse me separado não teria aprendido a coar café e as importantes lições de vida com o ovo cozido.
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Claudio Siqueira, opinólogo e cronista nas horas vagas em Foz do Iguaçu, Pr.