Sanuza Motta exibe os produtos fitoterápicos que produz em seu assentamento – Foto: MST
. No início da década de 2000, a agricultora Sanuza Motta se interessou pelo estudo das plantas medicinais. Lactante na época, ela recebeu um diagnóstico que, de acordo com estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) acomete uma em cada quatro mulheres. . “Eu tive um processo de depressão pós-parto. Eu estava amamentando meu filho e o psicólogo me passou um remédio controlado. Mas eu já tinha a ideia de que eu não queria aquilo para minha vida. Eu já era assentada e disse que não iria tomar”, lembra a assentada de Zumbi dos Palmares, localizado no município de São Mateus, região norte do Espírito Santo.
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Eu estava amamentando meu filho e o psicólogo me passou um remédio controlado
Em depoimento ao Brasil de Fato, Suzana disse que o seu companheiro chegou a comprar o medicamento indicado pelo psicólogo na farmácia, mas ela não aceitou e começou a se interessar pelo tratamento com ervas. . “Eu comecei a pesquisar [sobre o assunto] entre 2002 e 2003, em uma época que não tínhamos muito acesso a internet na roça e o mundo digital estava muito distante ainda. Daí comecei a fazer outros processos terapêuticos e hoje eu não tomo medicamento alopático”, afirma. . Apesar da decisão, a agricultora faz questão de ressaltar a importância dos alopáticos para muitas situações recomendadas por profissionais da saúde. Ela afirma que a postura de não tomar alopáticos foi tomada porque não queria fazer o desmame do filho, que hoje estuda agronomia pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), no Rio Grande do Sul. . Religando uma prática milenar, Suzana faz uso das plantas medicinais de acordo com a própria disposição da natureza. Ela não possui, por exemplo, um viveiro de mudas. Cada planta ocupa um espaço estratégico, nas funções de diversidade produtiva e equilíbrio com o agroecossistema. Ela conta que as ervas estão no quintal produtivo, ao lado de árvores, hortas, pomar ou em vasos em casa. .
O que pode parecer dispersão organizativa é, na verdade, uma sabedoria complexa que considera também a relação de cada tipo de erva ou de atividade com seus períodos próprios e as fases lunares. . “Eu gosto muito de seguir a Lua. O camponês contempla a natureza. Então das ervas que eu vou utilizar as folhas para tintura, para o fitoterápico, para embalar para levar para feira, para mandar para alguém ou para guardar mesmo, cada uma das atividades tem um período”, explica. . Sanuza Motta apresentou um pouco deste trabalho e sabedoria durante a IV Feira Nacional da Reforma Agrária, de 11 a 14 de maio, em São Paulo (SP) e conversou com a Rádio Brasil de Fato durante as atividades. A conversa está disponível na edição desta segunda-feira (22) no programa de rádio Bem Viver.
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