Fotomontagem: Jornal da USP – Fotos: Reprodução/Instagram e Pixabay
Audiodescrição da reportagem “Audiodescrição explora o potencial significativo das imagens transformadas em palavras”, de Danilo Queiroz para o Jornal da USP
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP desenvolve o curso de difusão “Audiodescrição em eventos ao vivo: curso teórico expositivo”. Em formato on-line e gratuito, os participantes terão a oportunidade de aprender ferramentas que tornem a comunicação mais inclusiva para pessoas com deficiência visual ou condições oculares associadas. Serão três aulas, sempre às quartas-feiras, das 14 às 17 horas, entre os dias 9 e 23 de agosto.
Foram disponibilizadas 80 vagas, com inscrições pelo sistema de cursos abertos da USP, o sistema Apolo. Caso o número de interessados ultrapasse a de vagas disponíveis para participação no programa, será realizado um sorteio entre os inscritos.
O objetivo do curso é sensibilizar a população para a importância da acessibilidade comunicacional em eventos ao vivo, como festas de carnaval, peças de teatro e campeonatos esportivos. Além de apresentar as modalidades de atuação de audiodescritores em eventos nas modalidades presencial e remota. O curso é coordenado por Lenita Pisetta, professora Titular de Teoria e Prática de Tradução no Departamento de Letras Modernas da FFLCH.
As aulas serão ministradas por Ana Júlia, mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC São Paulo e professora do curso Princípios Básicos da Audiodescrição no Centro Interdepartamental de Tradução e Terminologia (Citrat) da USP. Ana se autodescreve como uma uma mulher de pele branca, com cabelo castanho encaracolado na altura dos ombros, olhos verdes e usa óculos com aros transparentes grandes.
Os conteúdos ofertados contemplam desde termos e terminologias utilizadas na audiodescrição, até elementos práticos indispensáveis ao profissional que trabalha com acessibilidade, como o uso de tecnologias assistivas, visitas guiadas convite sonoro. A proposta é formar futuros audiodescritores, sejam roteiristas, locutores ou consultores, a fim de tornar a experiência da pessoa com deficiência visual a mais autônoma possível, de modo que ela não precise necessariamente de um acompanhante ou guia para frequentar espaços de cultura e lazer.
Como a audiodescrição significa traduzir imagens em palavras, a linguagem também se adapta conforme o ambiente e o interlocutor da mensagem comunicativa. “Por exemplo, uma estátua. Se ela estiver presente num museu, ela terá um significado. Num espaço aberto, outro. Isso porque em cada um desses ambientes a mensagem se molda conforme os públicos ali presentes”, explica Ana, que também é especialista em tradução pela FFLCH.
Promover acessibilidade não faz parte de uma boa ação de determinadas empresas e organizações culturais, mas de um cumprimento em garantir a responsabilidade social, conforme está prevista na lei. O Decreto 5.296 determinou a obrigatoriedade da descrição de voz em imagens na televisão. Desde 2013 tramita na Câmara dos Deputados o PL 5156, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da profissão de audiodescritor. Atualmente no Brasil há 18,6 milhões de pessoas com deficiência, considerando a população com idade igual ou superior a dois anos, segundo estimativas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022. Desses, há pelo menos 6 milhões de pessoas com deficiência visual ou condições oculares correlatas.
“Há pessoas que ainda não reconhecem a importância de promover uma comunicação acessível. Quando a gente diz: ‘nossa, a audiodescrição estava péssima, tem pessoas que nos questionam e dizem: ‘ah, mas pelo menos tem’, diz Ana. “Ter o mínimo, é garantia fundamental. Não deveria ser uma opção, pois é obrigação! Está na lei”, complementa ela, ao afirmar que a acessibilidade ainda não chegou da forma como deveria. De acordo com o INEP, 26,9% das escolas de educação básica ainda não têm nenhum recurso de apoio a pessoas com deficiência.
A audiodescrição em eventos ao vivo possui algumas peculiaridades. Diferentemente do que ocorre na gravação de filmes e séries, o audiodescritor não sabe das ações que está para ocorrer. Assim, é muito importante a atuação do profissional com um consultor, uma pessoa com deficiência visual, para avaliar a tradução. Ana explica que a audiodescrição é uma construção conjunta. “Quem está enxergando pode não perceber que esqueceu de descrever coisas essenciais para a compreensão de alguma informação. É a pessoa com deficiência visual que irá nos avaliar e questionar. Que nos ajudará a enxergar.”
Apesar da audiodescrição ser uma prática recente no Brasil, o recurso começou a ganhar visibilidade há poucas décadas. Graças aos digitais influencers e ativistas da causa anticapacitista – ou seja, contra a postura preconceituosa relacionada a pessoas com deficiência – nas redes sociais. “Eles nos ajudaram, em certo grau, a construir uma geração mais preocupada socialmente. Hoje, as pessoas estão exigindo recursos acessíveis, mesmo que elas não precisem”, celebra. “Porque só os profissionais de audiodescrição exigindo não é suficiente”, acrescenta ao lembrar que campanhas de hashtags, como #pratodosverem, permitiram tornar a comunicação ainda mais acessível e inclusiva.
Serviço: Audiodescrição em eventos ao vivo: curso teórico expositivo
Todas as quartas-feiras, de nove a 23 de agosto, das 14 às 17 horas On-line e gratuito
Mais informações: sce.fflch.usp.br, com o Serviço de Cultura e Extensão da FFLCH
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.