A Marcha das Margaridas acontece desde 2000 e leva esse nome em homenagem a Margarida Alves; edição de 2023 acontecerá nos próximos dias 15 e 16 – Agência Brasil
Mulher que se tornou símbolo da luta camponesa em todo o país, Margarida Maria Alves completaria 90 anos neste agosto. Líder sindical paraibana, ela teve a vida interrompida poucos dias depois do aniversário de 50 anos, em 1983, com um tiro de espingarda no rosto a mando de latifundiários.
A história de luta da mulher que presidiu por 12 anos o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande é lembrada todos os anos com a Marcha das Margaridas, uma das maiores mobilizações políticas de mulheres em toda a América Latina.
A marcha deste ano, marcada para 15 e 16 de agosto, deve reunir mais de 100 mil mulheres em Brasília. Será a primeira edição presencial do encontro desde o início da pandemia de covid-19.
Caçula de nove irmãos de uma família da pobre, ela conheceu desde cedo a dificuldade enfrentada por camponeses e camponesas expulsos de suas terras por latifundiários, situação que viveu ainda criança.
Defensora incansável dos direitos de trabalhadoras e trabalhadores rurais, ela se tornou referência no combate à violência no campo e à exploração de camponeses e camponesas, além da defesa da reforma agrária.
A paraibana viveu e morreu pela causa de quem trabalha no campo. Batalhou pela garantia de direitos básicos, como carteira assinada, décimo-terceiro salário, férias e jornadas dignas de trabalho – coisas que já tinham sido conquistadas pelas categorias de trabalhadores e trabalhadoras da cidade.
Somente depois de adulta conseguiu concluir a quarta série do ensino fundamental (na época, ensino primário). As dificuldades que enfrentou para estudar a motivaram a fazer com que lutasse para que pessoas de sua comunidade tivessem acesso a ensino. Em sua gestão no sindicato, foi criado um programa de alfabetização para adultos, seguindo métodos de Paulo Freire.
Meses antes de sua morte, no feriado de 1º de maio de 1983, Margarida disse uma frase que ficou marcada pelo caráter quase premonitório: “entendo que é melhor morrer na luta que morrer de fome”, afirmou em discurso.
A morte, em 12 de agosto de 1983, teve claras motivações políticas. Durante toda a vida como militante, ela conviveu com ameaças, mas nunca desistiu. Margarida foi abordada na porta de sua casa, em Alagoa Grande, e alvejada na frente do marido e do único filho.
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