A pedra agora merece mais pequisas e proteção. As autoridades iguaçuenses que estão de olho na Ilha Acaray, deveriam começar a falar sobre o que deve ser feito para proteger e dar acesso à Pedra-Monumento para que as populações das Três Fronteiras comecem a reconhecer sua história comum. A ilha Acaray também tem seus mistérios (Foto dos pesquisadores)
A Pedra Escrita do rio Iguaçu que atraiu a atenção de pesquisadores da Universidade da Integração Latino-Americana (Unila) liderados pelo doutorando professor Pedro Louvain e o professor Micael Alvino em parceria com o ICMBio Parque Nacional do Iguaçu, não é só uma pedra escrita. É uma pedra falante ou pelo menos uma pedra que convida a conversar e falar.
A escrita na pedra deve ter sido concluída no dia 23 de setembro de 1869. Data que aparece na pedra. Isso significa que neste sábado, 23 de setembro de 2023, a escrita da pedra está completando 154 anos.
Quando os marinheiros do Vapor Brasil “Greenhalgh” anotaram a data da passagem da canhoneira pelo local, faltavam cinco meses para o fim da Guerra da Tríplice Aliança e faltavam ainda 20 anos para a “descoberta” da foz do rio Iguaçu pela expedição do engenheiro tenente José Joaquim Firmino em 1889.
A voz da pedra nos força rever o uso da palavra “descoberta” em relação à foz, à boca do rio Iguaçu e seu mergulho no Paraná.
O que aconteceu em 1889 foi a coroação com êxito da missão dada ao tenente-engenheiro do Exército Joaquim Firmino pela Comissão Estratégica do Paraná com sede em Guarapuava culminando com a fundação da Colônia Militar do Iguassú.
A Comissão Estratégica do Paraná não quer dizer uma comissão criada pelo governo do Paraná. Em vez disso, foi uma comissão criada pelo Governo Imperial, ou seja foi criada na capital do Império.
A foz (com letra minúscula) já era conhecida pelo Brasil. A visita do vapor Brasil parece indicar uma viagem de reconhecimento da Marinha do Brasil. E eu não creio que os segredos desta história fantástica seja decifrado unicamente pela visão brasileira. Vamos ter que fazer um exercício de diálogo trinacional, pelo menos, no nosso caso estamos falando do Brasil, Argentina e Paraguai.
O historiador e museólogo paraguaio Nestor Gamarra, falando sobre a Pedra Escrita para o jornal Última Hora em matéria assinada pela jornalista Dolly Galeano disse que a descoberta “obriga os investigadores (pesquisadores) a concluir aspectos geográficos pouco estudados até o momento, relacionados à guerra da Tríplice Aliança”.
Sempre lembrando a importância da contextualização, Gamarra lembra que no ano que aparece inscrito na pedra, 1869, o que hoje é o lado argentino do rio Iguaçu onde está Puerto Iguazu, ainda era paraguaio.
A fronteira entre Argentina e Paraguai só foi definida pelo Tratado batizado como Irigoyen – Machaín assinado no dia 3 de fevereiro de 1876. Assinaram o documento Facundo Machaín pelo Paraguai e Bernardo Irigoyen. Os limites ficaram assim delimitados: da confluência dos rios Paraguai e Paraná até a confluência dos rios Iguaçu e Paraná.
Gamarra continua: “Em um contexto histórico de datas e região, podemos falar de uma hipótese que a militarização chegou a estas zonas, mas para uma conclusão devemos continuar o trabalho investigativo e documental, utilizar a arqueologia para elucidar muitas informações”, concluiu enfatizando que “É lógico pensar que a região foi militarizada por várias frentes. A tarefa pendente é continuar investigando (pesquisando)”.
Corroborando com Néstor Gamarra, é bom lembrar que até agora não trouxemos os argentinos para esta conversa. E para começar a fazê-lo lembramos que Posadas, que possivelmente servia como bloqueio para que barcos paraguaios não subissem o rio Paraná, teve um regimento militar do 2º Exército Brasileiro conhecido como o Regimento 24. Posadas antiga Trichera de los Paraguayos e Trinchera de San José foi tomada dos paraguaios em 1865.
Informações já localizadas em fontes consultadas pelos pesquisadores da Unila mostram que o vapor esteve à serviço da guerra no ano que ele apareceu no rio Iguaçu em Foz do Iguaçu. Não necessariamente em luta armada.
Então para celebrar os 154 anos da gravação na pedra vale fazer uma pergunta: quando vamos convocar a 1º Argentino-Brasileiro-Paraguaio para contextualizar a guerra e ter uma visão histórica do todo e não somente das partes isoladas?
Nota: O incremento de publicações do Blog de Foz sobre assuntos da Guerra Grande se inspira na declaração conjunta dos presidentes do Brasil (Temer) e do Paraguai (Cartes), de sua época, que incentivam a promoção de estudos que permitam preservar a história da Guerra da Triple Aliança de maneira a promover a integração dos povos.
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