O primeiro presente que você ganhou foi uma palavra. Toda vez que você sente um vazio se ramificando a partir centro do corpo. Palavra. Quando você quer falar de futuro. Palavra. E para usar a redundância a favor do ritmo do texto. Palavra. Tudo é palavra. Às vezes, nas minhas mais secretas camadas gostaria que a escrita fosse uma vaidade. Porque seria tipo renunciar a pintar a unha por algum tempo. Desse modo, os fantasmas já não mais me acompanhariam. Acontece que sofro de uma condição psiquiátrica que acredita na arte como o exato significante à prática da saúde mental. Acontece algo na camada da camada de minhas palavras que produzem diferentes vozes. Sinto calafrios com formas modeladas em palavra. No meu caso, a escrita é o ponto fraco. Existem diversas subcategorias que correspondem cada espécie de loucura a cada tipo de arte. A subjetividade da arte atende aos nossos pedidos de estrela cadente enquanto a vida germina máscaras toda vez que o sol se põe. Seja um ritual em devaneio. Aterrisse força naquilo que faz cosquinhas na vida. Palavra é palavra. É sorriso. É carro respingando poça d’água. É pirueta de sobrevivência, não estranhe, no texto nada é normal. Não existe aquela linha invisível dividindo o corpo da literatura. Pousar na folha exige fidelidade àquela parte medonha de nosso ser. É dali que urge uma escrita alucinada, o fruto podre voltando a crescer.
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