Situada no interior do parque, Usina São João chegou a gerar energia para área urbana de Foz do Iguaçu. Foto: Assessoria/Unila
H2Foz / Por Guilherme Wojciechowski Um acordo de cooperação técnica entre o Parque Nacional do Iguaçu e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), com sede em Foz do Iguaçu, está possibilitando a realização de um trabalho de identificação e registro do patrimônio histórico da unidade de conservação, com fins de preservação e divulgação.
O grupo de pesquisa é coordenado pelo historiador e docente Micael Alvino da Silva, da Unila. A equipe tem também os professores Heloísa Marques Gimenez e Mamadou Alpha Diallo, além do servidor técnico-administrativo, museólogo e historiador Pedro Louvain.
Usina São João esteve ativa até o início da década de 1980. Foto: Assessoria/Unila
“O acordo de cooperação técnica traz da Unila o que ela tem de melhor, que é o seu quadro de especialistas para a coleta, análise e interpretação de documentos e objetos históricos e culturais”, explica Micael, citado pela assessoria da Unila. “A contrapartida do parque é permitir o acesso a todos os espaços onde este material possa ser encontrado.”
O atual trabalho tem como origem um projeto de extensão desenvolvido por Pedro Louvain desde 2021, o “Museologia social no Parque Nacional do Iguaçu: levantamento, inventário e conservação dos bens culturais”.
Entre os documentos encontrados pela equipe estão fotografias, 500 plantas arquitetônicas de prédios históricos do parque (todas digitalizadas e à disposição de pesquisadores) e mapas, incluindo um do perímetro urbano de Foz do Iguaçu, da década de 1940, até então ausente dos arquivos oficiais do município.
Também foram identificados projetos e documentos da primeira hidrelétrica do Oeste do Paraná, a Usina São João, que funcionou entre 1942 e 1983. A usina nasceu no rastro da criação do parque, em 1939, como parte da infraestrutura necessária para permitir o acesso de turistas, assim como o primeiro aeroporto (atual Gresfi), conta Micael.
Conforme o mapa, a Foz do Iguaçu da época era formada por 14 ruas, dispostas a partir do quartel do Exército, e recebeu dois ramais elétricos para abastecer o próprio quartel, o aeroporto e o Hotel Cassino Iguaçu (hoje sede do Senac).
“Esse é um ponto em relação ao Parque Nacional que ninguém foca. O parque está em um lugar que os estrategistas do governo federal sabiam que não tinha nada. E tinham que fazer tudo”, destaca Micael, citando como parte da melhoria da infraestrutura o envio de recursos para o porto de Foz (atrás da sede da Marinha) e a construção da BR-277.
“É impressionante a gente saber que tem recursos do Parque na rodovia, recursos para melhorar a infraestrutura do porto. Foi um megainvestimento em Foz do Iguaçu naquela época. Estima-se 32 milhões de cruzeiros, quando o orçamento do Paraná todo era de 28 milhões de cruzeiros”, complementa o pesquisador.
Uma das sugestões do grupo é recuperar a casa de máquinas da Usina São João e transformar seu entorno em um espaço de memória.
Todos os materiais com valor histórico e cultural estão sendo coletados nos diferentes edifícios construídos no Parque Nacional do Iguaçu, encaminhados por servidores ou doados por pessoas que tiveram relação com sua história. Duas salas da Escola Parque – laboratório de curadoria museológica e reserva técnica – abrigam o conjunto.
Acervo catalogado inclui itens como documentos, fotos e mapas. Foto: Assessoria/Unila
Os materiais estão divididos em quatro acervos: o arquivístico, que reúne documentos, mapas, plantas arquitetônicas e fotos; o museológico, onde constam objetos como uma central telefônica; e o arqueológico, que conta com 400 fragmentos cerâmicos e outros objetos. O quarto acervo é o bibliográfico, composto basicamente por livros, que ainda não foi iniciado.
Segundo Louvain, que atua como curador, todos os mapas e plantas arquitetônicas já estão digitalizados e serão agregados ao Museu Digital da Unila. Pesquisadores que desejarem acesso aos documentos podem entrar em contato pelo e-mail pedro.oliveira@unila.edu.br.
Futuramente, o objetivo é formar um novo Museu do Parque Nacional do Iguaçu para expor o acervo que está sendo preparado. A unidade abrigou um Museu de História Natural, criado na década de 1940 e desmobilizado no início dos anos 2000. “Nosso sonho é a volta do Museu do Parque. Não como era antes. A gente quer que volte de acordo com o pensamento do século 21, que tem outra museologia”, afirma Louvain.
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