As jaguatiricas são descendentes dos primeiros espécimes resgatados na operação Mymba-kuera, há 40 anos – Foto: Sara Cheida/Itaipu Binacional
O envio de espécies do RBV para o refúgio argentino faz parte de um convênio de troca de conhecimento entre as duas instituições. Itaipu fornece exemplares nascidos no Programa de Reprodução de Espécies e, em troca, se apropria da experiência de 20 anos da Rewilding Argentina em reintrodução dessas espécies na natureza. O objetivo é que, em um futuro próximo, a soltura dos animais seja feita em áreas no próprio Brasil.
“A ideia de doar os animais é dar um melhor destino para eles terem uma vida livre e, além disso, recebermos a capacitação que vai nos ajudar na reintrodução em nossa Mata Atlântica”, reforçou o médico-veterinário de Itaipu, Pedro Telles.
Animais serão transportados por terra até Corrientes – Foto: Sara Cheida/Itaipu Binacional
Este é o segundo envio de animais do RBV para o refúgio argentino. Em 2019, o Iberá recebeu três antas (Tapirus terrestris) e seus dez primeiros mutuns-de-penacho, espécie considerada extinta na região havia 50 anos. De lá para cá, os mutuns já se reproduziram na natureza, ajudando a recompor o ecossistema da região.
Telles lembra que as jaguatiricas são descendentes dos primeiros espécimes resgatados na operação Mymba-kuera, há 40 anos. “Elas carregam a genética de animais pioneiros do Refúgio Biológico e representam essa longa experiência na reprodução de espécies”, afirmou. Com a saída das três jaguatiricas, o RBV não terá mais a espécie em seu plantel.
De acordo com o médico-veterinário da Rewilding Argentina, Gustavo Solis, as duas instituições estão trabalhando há tempos na reintrodução da fauna ameaçada da região. “O Refúgio Biológico de Itaipu tem muito sucesso na reprodução de espécies ameaçadas e no resgate e proteção da fauna. E nossa fundação tem muita experiência na reintrodução das espécies, com monitoramento posterior”, reforçou.
Ele explica que mutuns e jaguatiricas cumprem funções ecológicas distintas na natureza. Os mutuns são dispersores de sementes, contribuindo para recomposição florestal; já as jaguatiricas fazem o controle das outras espécies. “Nossa região perdeu muitas espécies e, agora, estamos devolvendo esses animais para termos um ecossistema saudável”, acrescentou.
Mutuns-de-penacho, dispersores de sementes, importantes para o ecossistema do santuário ecológico argentino – Foto: Sara Cheida/Itaipu Binacional
Em 20 anos, a fundação reintroduziu mais de 20 espécies como onça-pintada, veado-campeiro, ariranha, tamanduá-bandeira, mutum-de-penacho, entre outras. O Gran Parque Iberá é um conjunto de paisagens úmidas, como pântanos, lagos, lamaçais e cursos d’água, constituindo a segunda maior área do gênero no mundo (a primeira é o Pantanal).
O envio de espécies do Brasil para a Argentina segue um longo protocolo de autorizações de órgãos dos dois países. O trânsito desses animais é regulamentado pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção (Cites) que, no Brasil, tem o IBAMA como ponto focal.
Após o trâmite com o IBAMA, é necessária a autorização sanitária, assinada pelos Ministérios da Agricultura brasileiro e argentino. Os mutuns passam por uma série de exames contra influenza, chlamydiose e doença de Newcastle (DNC), enquanto as jaguatiricas são examinadas para identificar tuberculose e tripanossomas em geral. Todos são vermifugados e recebem antiparasitas e remédios contra pulga, carrapato e piolho.
Antes de deixarem o RBV, eles passaram por uma quarentena de 30 dias. No dia do transporte, os animais foram colocados em caixas de madeira e pesados, trabalho feito com a ajuda dos tratadores terceirizados do RBV. Após o trâmite nas duas aduanas, eles foram levados via terrestre para Corrientes. No Iberá, ficarão em uma nova quarentena antes de serem soltos na natureza.
Equipes de Itaipu e da Fundação Rewilding Argentina – Foto: Sara Cheida/Itaipu Binacional
Os mutuns serão colocados em um recinto de 200 m² de área com 20 metros de altura, no interior do parque, para se aclimatarem à região antes de serem soltos em definitivo. As jaguatiricas, que já têm 14 anos de idade, devem ficar inicialmente em recintos para procriarem. Futuramente, elas podem ser soltas com seus filhotes no Iberá. Todos os animais são marcados com equipamentos que emitem sinal de rádio para serem monitorados.
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