Muitas mulheres têm dificuldade em conciliar qualidade de vida e o trabalho materno – Foto: William Fortunato/Pexels
Nota de Política Econômica (NPE 51) analisa o custo da maternidade no Brasil e as múltiplas consequências do trabalho de cuidado não remunerado realizado por mulheres. Amanda Resende, do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), ligado à Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, comenta o projeto que estudou o cenário brasileiro, tomando como referência o ano de 2022.
Hoje, muitas mulheres têm dificuldade em conciliar qualidade de vida e o trabalho materno, enquanto outras querem ser mães, mas, por conta do impacto financeiro que isso teria, acabam por desistir. Abordar essa questão, segundo Amanda, “é uma forma de você viabilizar os desejos pessoais individuais”, sendo também uma ambição coletiva. “Toda a sociedade se beneficia do fato das crianças terem um bom desenvolvimento e cuidado.”
A pesquisa descobriu que 11,2 milhões de mulheres ficaram fora da força de trabalho porque tinham que cuidar de crianças, de pessoas com deficiência ou realizar afazeres domésticos. Destas, 6,8 milhões são negras e 4,3 milhões são brancas, o que reflete o cenário de desigualdade no Brasil. A pesquisadora explica que ambas são duramente impactadas, só que de uma forma diferente: mães solo brancas ficam próximas da linha da pobreza, enquanto as negras beiram a extrema pobreza.
Uma questão essencial também é ver se as mães são solteiras ou acompanhadas. De acordo com o estudo, pelas mães solo serem obrigadas a fornecer renda, “elas têm que aceitar trabalhos pior remunerados no mercado, já que não contam com um complemento de renda de um companheiro”, diz Amanda. Elas sofrem, portanto, de uma pobreza econômica e de tempo, pois são duplamente afetadas pelo fato de ter que sustentar financeiramente e garantir os cuidados.
Já as mulheres que têm companheiros têm um pouco mais de oportunidade. Com uma outra fonte de renda, “é mais comum que elas estejam fora do mercado de trabalho, mas porque elas podem optar”, afirma ela. O que se observa é que elas tendem a permanecer no trabalho quando são mais bem remuneradas.
Amanda Resende afirma que essa é uma questão de relevância pública e que envolve toda a sociedade. Não só a mãe, pai e família devem estar presentes para um bom desenvolvimento da criança, mas também o Estado. Serviços e infraestrutura social, conforme ela argumenta, são essenciais nesses casos. Um exemplo prático é, por exemplo, oferecer creches em nível suficiente em um período com uma carga horária maior.
Outra medida importante é a transferência de renda. Amanda afirma que, neste caso, isso serve para “evitar a reprodução intergeracional da pobreza”. Se a mãe não tem condição de garantir cuidado e educação suficientes, é muito mais provável que a criança não consiga sair desse ciclo de miséria.
Por fim, ela lembra também das políticas de licença-maternidade – ou, como ela propõe, “licença-paternidade”. Segundo ela, tanto a mulher quanto o homem deveriam ter esse direito, evitando que o estereótipo de que só a mulher cuida se perpetue. Amanda também afirma que essas licenças precisam ser estendidas, assegurando o bom desenvolvimento do bebê nas fases iniciais da vida e proporcionando para os pais mais saúde e bem-estar.
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