Palestrantes trouxeram debates e apresentaram estratégias para incluir no mercado de trabalho aqueles que apresentam um funcionamento neurológico diferente do padrão estabelecido pela sociedade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 100 pessoas no mundo está no espectro autista, o que representa cerca de 80 milhões de pessoas. No Brasil, estima-se que entre 2,1 e 4,3 milhões de pessoas apresentem algum nível do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Enquanto em alguns setores produtivos a presença dos neurodivergentes é mínima, na tecnologia eles são maioria. Mas, o que justifica isso? Para Márcia David, que é formada em Ciência da Computação, com mestrado em Inovação e Empreendedorismo e atua no ensino universitário, o formato de trabalho relacionado a esse segmento é um dos principais fatores. “As pessoas do espectro autista têm muita necessidade de rotina. E o ambiente da tecnologia traz uma segurança para eles, já que ali existe previsibilidade, a rotina é bem definida e os processos são bem estruturados. Sem falar que eles podem trabalhar mais quietinhos, cada um no seu computador, sem a necessidade de muita socialização. É um trabalho mais individual e isso também ajuda.”
Junny Freitas, que é autista, superdotada, autodidata, analista de dados e ativista e militante pela inclusão e neurodiversidade, e também foi uma das palestrantes do 2º dia do Latinoware, complementa dizendo que “a rigidez cognitiva da pessoa neurodivergente, que não desiste fácil de uma ideia, ajuda, porque basicamente o mercado da tecnologia é feito de tentativa e erro. Sem falar que os neurodivergentes que decidem empreender, normalmente, são muito criativos e pensam fora da caixa, porque o que não faz sentido para muitos, para eles faz. Então, eles vão lá, executam e tem sucesso naquilo.”
Estudantes neurodivergentes enfrentam uma série de dificuldades ao longo da jornada escolar, mas quando chegam à universidade esses percalços podem se agravar. O acompanhamento de neuroatípicos no ensino superior foi o tema da palestra do Professor do Centro Universitário Fundação Santo André, Fabiano Romeu Henry Passos. Ele apresentou um projeto de pesquisa que desenvolve com o objetivo de promover a inclusão de alunos com TEA e TDAH no ambiente acadêmico do ensino superior. “A proposta central do projeto é o desenvolvimento de um sistema de informação que facilite a comunicação entre professores, alunos e o Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPSI), além de criar um registro histórico de práticas adotadas e promover a personalização do ensino, aumentando consideravelmente o aproveitamento acadêmico dos alunos que demandem necessidades relacionadas ao tema”, explica.
Fabiano aponta que a transição da escola para a universidade traz uma série de mudanças para o estudante, que muitas vezes tinha acompanhamento especial durante o período em que frequentava a escola e passa a não ter mais quando entra na faculdade. A falta de recursos para atender esses estudantes nas faculdades, aliado à falta de informações e compreensão sobre as características de alunos neuroatípicos por parte de professores e alunos também é um grande obstáculo.
Estima-se que 92 mil estudantes com deficiência estavam matriculados no ensino superior no Brasil em 2022.
O Latinoware segue até amanhã, 29 de novembro, com programação intensa das 8h às 18h. As inscrições são gratuitas e seguem abertas no site do evento: latinoware.org.
Nos três dias de evento, 30 mil pessoas devem passar pelo Itaipu Parquetec para conferir o Latinoware e os demais eventos que integram o Festival Iguassu Inova, evento amplo que será realizado até o dia 30 de novembro.
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