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Mulheres indígenas Yanomami. – Foto: TV Brasil/Divulgação
19 de abril, Dia dos Povos Indígenas. Ainda é comum as escolas de ensino fundamental comemorarem a data fantasiando e pintando as crianças, à semelhança do que fazem na Páscoa. Sai o coelhinho, entra o índio. A figura indígena, abordada desta maneira, se torna tão irreal quanto um coelho gigante que traz ovos de chocolate em embalagens coloridas. Preparamos algumas sugestões de atividades para tratar do tema sem preconceitos, estereótipos, romantismo ou nostalgia:
Torne a questão indígena interdisciplinar e contínua Como já disse Rita Lee e Baby do Brasil, antigamente “todo dia era dia de índio”. Não deixe que hoje ele só tenha o 19 de abril! A Lei 11.645/08, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, ressalta a importância de trazer as suas contribuições nas áreas social, econômica e política. Relacione o tema com os conteúdos de Português (temos diversas palavras em nosso vocabulário de origem indígena), Geografia (noção de território), História (contato, escravidão e lutas) e Ciências (conhecimento indígena da biodiversidade brasileira). Leve estas questões para a sala de aula ao longo do ano todo.
Mapa animado e cronológico das línguas dos povos indígenas no Brasil desde antes da chegada dos portugueses até os dias de hoje – Museu da Língua Portuguesa
. Priorize informações sobre os indígenas na atualidade Refletir sobre a história dos povos indígenas é muito importante, mas tenha sempre o cuidado de trazer outros pontos de vista, e não só o de Cabral. Muitos pesquisadores indígenas fazem suas próprias análises da história de seus povos e do contato com a nossa sociedade. Além do mais, é importante superarmos o pensamento de que “índio é coisa do passado”. . Portanto, além de trazer a história e enfatizar aspectos culturais, como festas e rituais, lembre-se de trazer questões atuais: uso de tecnologias (produção de vídeos e redes sociais, por exemplo) e a atuação política.
Dança do Povo Macuxi – Foto: acervo Funai
. Valorize a diversidade de povos Muitas vezes os professores promovem atividades escolares com boas intenções, como pintar as crianças com duas linhas paralelas nas bochechas, colocar um cocar de brinquedo e dançar músicas em línguas que as crianças não compreendem. Estas atividades podem até trazer um sentimento positivo das crianças em relação aos indígenas, mas não trazem a realidade. . Temos no Brasil mais de 300 povos indígenas. A reprodução da imagem de um “índio genérico”, caracterizado por pinturas, vestimentas e aspectos físicos exclui diversas etnias e indivíduos, que por diversas questões não se enquadram neste padrão imaginário. Não generalize. Lembre-se de evidenciar a diversidade de povos indígenas e suas particularidades. Mostre também indígenas ressurgidos, de cabelo crespo, sem pinturas, universitários, etc. Traga exemplos reais e explique qual a etnia, onde está localizada e aspectos de sua cultura. . Convide indígenas para a escola Qualquer atividade pode se tornar muito mais interessante se tiver a participação de indígenas. Convide-os para fazer uma palestra sobre suas vidas, seu povo, espiritualidade, conhecimento da natureza, produção artística ou o que eles desejarem! O convidado indígena também pode fazer uma oficina de artesanato, pintura, culinária ou de brincadeiras tradicionais de seu povo. .
Contextualize e problematize a questão indígena. Estamos vivendo um momento tão terrível em relação aos direitos indígenas, que não dá para ignorar e mostrar só o lado “bonito” do tema. . O Dia do Índio foi instituído no Brasil pelo presidente Getúlio Vargas, em 1943. A data faz referência ao Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu no México em 1940. Os índios não participaram nos primeiros dias do evento, mas no dia 19 de abril tiveram uma grande participação. Portanto, fale de participação, fale de mobilização, fale de luta!
Atualmente, o 19 de abril é considerado o Dia dos Povos Indígenas, numa celebração da trajetória de lutas e resistência. Acompanhe a Mobilização Nacional Indígena e explique as principais reivindicações dos indígenas. . Ouçam músicas indígenas Talvez alguém ainda considere a possibilidade de tocar para as crianças as músicas “Vamos Brincar de Índio” da Xuxa e “Curumin Iê Iê” da Mara Maravilha. Outros mais sofisticados podem preferir “Um Índio” do Caetano ou “Índios” de Legião Urbana. Há ainda aquelas músicas “new age” com referências aos índios norte-americanos. Mas independente de seu gosto musical, não toque somente músicas SOBRE indígenas, toque músicas DE indígenas. Procure mostrar aos estudantes a riqueza das culturas dos povos originários. Visite o site do Museu do Índio, aqui. .
Faça um festival de cinema . Existe uma produção infinita sobre o tema, muitas delas feitas por indígenas. Sugerimos aqui algumas:
Jovens Avá-Guarani filmam e fotografam seu cotidiano no projeto Educom Guarani, da Unila – Foto: acervo Educom
. Imperdíveis são os vídeos produzidos pelo Educom Guarani, projeto de extensão realizado pela Unila – Universidade Federal da Integração Latino-Americana. São vídeos, produzidos com a participação efetiva dos indígenas que vivem no entorno da fronteira trinacional. Mostram um pouco da língua, cultura e tradição Guarani. As crianças e juventude guarani também registraram atividades e brincadeiras durante as oficinas formativas. Acesse a produção dos educomunicadores guaranis em frente e por trás das câmeras, aqui.
Índios no Brasil é uma série produzida justamente para inserir a discussão sobre histórias e culturas indígenas nas escolas. São 10 programas apresentados pela liderança indígena Ailton Krenak, cada um com cerca de 20 minutos. . Apesar de ter sido produzida há mais de 10 anos, a série traz muitas questões atuais. A partir do olhar de nove povos indígenas, a série retrata a relação dessas etnias com a natureza, com o sobrenatural e com a sociedade brasileira. Os programas trazem também depoimentos de não-indígenas, especialistas e pessoas comuns. Você pode baixar nos sites da TV Escola e Vídeo nas Aldeias.
. Pajerama O curta metragem Pajerama é sobre um indígena que está andando na floresta e de repente… (não vou contar para não perder a graça!). É uma animação linda, que possibilita refletir sobre a expansão do espaço urbano e o encontro com a nossa sociedade. Pessoas de todas as idades podem gostar, e como não tem falas, pode ser especialmente interessante para crianças, inclusive as indígenas. Assista aqui.
. Das Crianças Ikpeng para o mundo Um filme super fofo! Crianças Ikpeng apresentam sua aldeia, família, brincadeiras, festas e seu cotidiano. É um filme leve e instigante, pois o tempo todo elas perguntam para quem está assistindo sobre como é a sua vida, curiosas em conhecer crianças de outras culturas. Assista aqui em duas versões. Som original, com legendas ou dublado (clique na opção desejada) .
Sirva comidas que aprendemos com os indígenas Além de deliciosas e nutritivas, as comidas podem instigar um debate sobre a biodiversidade e o trabalho de agricultura e melhoramento genético que os indígenas fazem há milhares de anos. Que tal bolo de milho, tapioca, pipoca e frutas nativas?
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