Um homem. Atravessava a rua vestindo calças modernas. Tinha cabelos ondulados e olhos pretos, suaves. Trazia um ânimo doce no peito, talvez de nome coragem. Segurava uma caixa nas mãos, com uma força que não era merecida, que era tão maior
A dor de levá-la era pesada porque era desejo puro. Na caixa tinha o desejo de uma história longa e rica, de abundância de querer. Tinha também um talvez não, uma negativa em si, de um galho seco que nao se segura e cai.
Tinha o orgulho sem medida exata, cabendo deitado ou de pé. Na caixa tinha um pedaço de fé, uma infância de razões esquecidas, uma roça esverdeando com a chuva.
E era para ela. Do outro lado da rua com as janelas abertas, indicando a saída, a entrada ou a bandeira branca. Esperou um milênio, com a coragem escondida, que o amor saísse da janela, de mini molduras e agora que tinha o momento, falava de mansinho com o coração arrepiado.
O desejo abre os braços, para uma preguiça gostosa, já deixando o meio do corpo para se esvair pelas pontas dos dedos. Era tão claro, que tinha forma própria e cabia dentro da caixa.
Tocou a campainha e ofereceu o mundo. Queria levá-la para um café e era ela quem dizia o quando. Para ele poder dizer aonde. A caixa balançou de uma mão para outra, gostando do carinho.
Ela disse sim.
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