O modelo de produção capitalista favorece a indústria de alimentos e a produção de commodities, ao mesmo tempo em que prejudica tradições alimentares – Foto: Ednubia Ghisi e Regis Luís Cardoso/Observatório do 3° Setor creditada à Fotos Públicas
No dia 16 de outubro, celebrou-se o Dia Mundial da Alimentação (DMA), uma data que convida à reflexão sobre a segurança alimentar e os direitos associados à alimentação. A data é celebrada no dia da criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), 16 de outubro de 1945. No entanto, a primeira celebração do DMA ocorreu apenas em outubro de 1981, com o tema A Comida Vem Primeiro e, desde então, a FAO escolhe anualmente um tema para simbolizar os eventos da data.
Desde sua criação, o Dia Mundial da Alimentação tem se configurado como uma ação coletiva em diversos países, promovendo eventos que reúnem governos, empresas, organizações da sociedade civil e instituições acadêmicas. Em 2024, a FAO escolheu como tema central Direito aos Alimentos para uma Vida e um Futuro Melhores. Para marcar essa data, a Faculdade de Saúde Pública da USP organiza anualmente um evento que inclui palestras, debates e feiras. Neste ano, o tema abordado foi Comida, Nosso Patrimônio, Fartura e Escassez e promoveu reflexões sobre os desafios contemporâneos relacionados à alimentação saudável.
LEIA TAMBÉM: Itaipu e Funai fortalecem agricultura familiar em comunidades Guarani no Paraná
Conforme a professora Aline Rissatto, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e responsável pela programação deste ano, o ato de comer vai além da mera ingestão de nutrientes, pois se trata de um patrimônio cultural que permeia aspectos sociais e políticos. A comida, segundo ela, é um elemento crucial da identidade, intimamente ligada aos biomas, sociedades e práticas ancestrais de cultivo e preparação.
Aline Rissatto Teixeira – Foto: Arquivo pessoal
De acordo com a especialista, o tema do evento está alinhado com a campanha da FAO para 2024, buscando enfatizar a importância de ampliar a diversidade de alimentos nutritivos disponíveis em mercados e nos lares. Ela conta que a insegurança alimentar é um dos problemas atuais de maior gravidade na humanidade, já que mais de 2,8 bilhões de pessoas no mundo não conseguem arcar com uma dieta saudável e cerca de 730 milhões enfrentam fome, consequência de um sistema alimentar hegemônico e de crises climáticas e econômicas.
Segundo a professora, esse cenário impacta de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, incluindo mulheres negras, trabalhadores rurais e pequenos agricultores, que são responsáveis por um terço da produção alimentar global. Aline aponta o modelo de produção capitalista como o principal responsável por essa problemática, já que favorece a indústria de alimentos e a produção de commodities, ao mesmo tempo em que prejudica tradições alimentares e contribui para a prevalência de alimentos ultraprocessados. Consequentemente, o consumo desse tipo de alimento, aliado à pouca variedade de nutrientes na dieta da população, resulta em grandes problemas de saúde pública.
“Devido a isso, no DMA deste ano vamos refletir que a comida não é simplesmente mercadoria, é um bem comum. E a alimentação, ou a falta dela, vai contar nossa história e pode ajudar a traçar o nosso futuro. Por essas questões, é fundamental que estejamos sempre atentos e discutindo temas relacionados à segurança alimentar mundial e aproveito para convidar toda a população para o evento no ano que vem”, detalha.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.