Maria das Flores descobriu a internet aos 99 anos de idade. Num domingo chuvoso e de muita solidão. Logo nos primeiros dias se apaixonou pela interatividade das redes sociais. A descoberta foi um delírio. O cadastro nas mídias possibilitou o reencontro virtual com ex-namorados, amigos de infância, colegas de trabalho e, claro, com novos amigos. Cada dia mais pessoas insistiam em sua amizade. Flores ficou conhecida como a velhinha do Facebook, onde esbanjava vitalidade e sensualidade. A idade era apenas um detalhe. Sua cabeça era de uma moça aos 18 anos no gás da juventude, transpirando vontade de fazer as coisas. O comportamento da internauta atraía a curiosidade de muitos. Principalmente dos sabichões que defendiam que o futuro da humanidade passava pelas redes sociais. Milhares de amigos lhe cumprimentavam logo pela manhã em seu perfil no Facebook. Era uma rotina de adoração a senhora conselheira e badalada. Numa quarta-feira os amigos são pegos de surpresa com o seguinte convite de evento. “Despedida de Maria das Flores será realizada no Cemitério Céu Colorido, às 14 horas. No local haverá pontos de conexão e wi-fi – internet sem fio – , para todos”. Exatamente 4983 amigos confirmaram presença. Apenas seis postaram que não iriam e cinco não sabiam. Com um sol de 38 graus e um público de quatro pessoas é iniciada a cerimônia. Da esquerda para a direita: o padre, o coveiro, o sobrinho da falecida e um vereador da cidade, que chorava muito e mesmo cansado, era obrigado a carregar uma pilha de cinco mil panfletos.
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