A gaiola silenciosa, conto de Mário Milani

19 de agosto de 2024

Texto e fotografia reproduzidos de perfil do autor em rede social.

Na quietude absoluta da gaiola, um pássaro. Estático. E seu dono, um casal. Triste. Apático. Mórbido. Leva uma vida medíocre. Ficavam os dois absortos e atônitos porque na casa do vizinho os pássaros cantavam. Alegres. Todos os dias cantavam ao alvorecer e ao entardecer. Uma sinfonia inigualável. Canto de felicidade.

O casal triste da gaiola silenciosa queria saber o porquê daquela alegria. Bateram à porta do vizinho, sem dizer bom dia, e perguntaram:

— Por que todos os pássaros vivem aí com você? O que você faz para encantá-los?

O vizinho respondeu serenamente, dando um bom dia:

— É que aqui é o paraíso deles. As árvores são suas moradas. Fazem seus ninhos. Festas. E Eles alimentam dos seus frutos: goiabas, araçás, maçãs, peras, jaboticabas, mamão, manga, pitangas…

O casal ficou em reflexão por um momento, refletindo sobre a resposta do vizinho. Naquela simplicidade, estava a chave para a felicidade que tanto buscavam. Compreenderam que, para que seu pássaro cantasse, precisariam mudar o pensamento sobre gaiolas. Prisão. Jaula. Mundo restrito.

Decidiram então mudar. Abriram a gaiola e começaram a plantar árvores no jardim. Encheram a casa de cores, sabores e vida. Aos poucos, o pássaro que antes estava paralisado começou a mexer as asas, a piar timidamente. Até que um dia, ao amanhecer, ele voou suavemente.

E assim, o silêncio da gaiola foi substituído por uma melodia constante, uma celebração diária da vida, da liberdade.