Ela, velha
lanterna chinesa
translúcida
(Cor de crânio
quase a explodir)
flutua – Lua:
Escudo de batalha,
hóspede do céu,
cesta de damas-da-noite:
Quantas marcas de passado
em suas feridas, fissuras,
cicatrizes?
1969, Amstrong te largou aí,
depois de pisar e pular
em suas crateras.
Até hoje dizem
que tudo não passou
de pura encenação.
Cientistas se debatem
sobre o mistério
de sua composição
E ainda assim, com essa cara
de máscara Nô,
você nos olha.
Li Po te esperou aquela noite
no Rio Amarelo.
Ele só queria abraçá-la.
Méliès (1902) abusou
de sua inocência
em Le voyage de la lune
Enquanto egípcios
a tiveram, Chonsu,
em altíssima conta.
Artemis, Chandra, Jaci.
Deusa Branca,
Senhora do Oriente,
A memória colhe
outros nomes
em seu passeio noturno:
Bombardeada pelo sol,
o que fascina
é sua face oculta:
Capuz de velha bruxa,
perita no disfarce
de suas fases.
Este o nascer da Terra
visto de sua praia cinza e sem mar,
onde som nenhum se propaga.
Estéril concubina, espelho solar,
satélite inútil
suspenso no enigma.
Certa noite de verão
Sokan lhe pôs um cabo
e tornou-a um esplêndido abano.
Lua que desce à terra
e se mistura
com o sonho dos homens.
__________________________Rodrigo Garcia Lopes é poeta, tradutor, compositor, romancista. Poema do livro Experiências Extraordinárias (Kan, 2015). Da página Kotter Editorial*Cena do filme Viagem à Lua, do francês Georges Méliés (1902).
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