Oficina de fanzine do Ponto de Cultura Tirando de Letra da Guatá, em 2013 – Foto: arquivo Guatá
Participei de uma palestra sobre educomunicação e meio ambiente, através do Projeto ComCiência, numa escola que fica bem longe de onde moro, vivo e trabalho. Iniciei falando que para explicar a educomunicação, embora exista teoria, gostaria de ir, com a prática, explicando o que entendemos por esse novo campo de conhecimento que vem se formando. Levei vários exemplos de programas de rádio, de histórias de jovens educomunicadores e jovens fazendo mídia durante o VI Simpósio de Educomunicação, realizado em outubro, deste ano [2006].
Como o objetivo do Projeto ComCiência é despertar o interesse de crianças e adolescentes para a ciência e a pesquisa, contribuindo assim com o desenvolvimento socioambiental da região Capela do Socorro, a educomunicação é uma proposta que pode contribuir de forma exemplar para a disseminação desse interesse.
Desde 2000 venho construindo minha trajetória profissional de uma forma que contribua na transformação da sociedade brasileira, mesmo que seja uma pequena semente num oceano, e por isso a educação passou a ser a segunda opção profissional, pois é o caminho que acredito para a tão sonhada mudança. A primeira opção é a comunicação, especificamente o jornalismo.
O conceito de educomunicação une as duas áreas do saber- educação e comunicação fazendo com que ambas trabalhem conjuntamente, em interação. Sendo assim, a educomunicação só encaixa perfeitamente na minha proposta de levar a comunicação para a educação,
Vale ressaltar, que a inter-relação dessas áreas há duas décadas vêm se desenvolvendo pelo Brasil e além mar. No seu início propunha a leitura crítica da mídia, principalmente a televisão, pois esta era vista, e eu acredito que ainda é, com muitas ressalvas pelos educadores.
Foi em 1999, que o Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo-NCE/USP, a partir de uma pesquisa, denominada Perfil, detectou que, em toda a América Latina. existiam muitas experiências de educomunicação.
Guatazinho, personagem criado pelo ilustrador Lalan Bessoni para ser o mascote das oficinas do Ponto de Cultura da Guatá – reprodução
Depois de uma boa caminhada, a educomunicação vem ampliando sua abordagem para além da leitura crítica dos meios de comunicação. O que essa área do conhecimento propõe é que os educadores e educandos se apropriem das diferentes tecnologias – jornal impresso, rádio, televisão, internet – no dia-a-dia da sala de aula, do trabalho na ONG, ou de outros espaços de educação não formal. Esta intervenção deve ser de maneira participativa em que o diálogo se dê horizontalmente, e que a premissa básica de uma escola que se propõe mudar, seja incentivar atividades em conjunto entre os envolvidos, onde todos são acolhidos por sua potencialidade e partilhem de conhecimento. Não vemos mais o professor como o dono do saber e o aluno um mero expectador. A educação bancária, tão criticada por Paulo Freire, precisa acabar. Só assim os educandos terão mais interesse em aprender.
Podemos afirmar que a educomunicação propõe não somente usar bem a mídia na sala de aula, mas sim que professores, alunos e comunidade escolar se apropriem das diferentes tecnologias para melhorar e ampliar as relações de comunicação, os mecanismos de expressão entre todos os envolvidos. Aí reside o maior interesse da educomunicação – não interessa o melhor uso das tecnologias e sim em como utilizar esses recursos para melhorar as relações de comunicação entre os envolvidos.
E o que a educomunicação tem a ver com o meio ambiente? Primeiro é bom ressaltar que tudo neste nosso planeta tem a ver com o meio ambiente, compõe o meio ambiente. Esta não é uma área estanque. Uma vez que tudo está relacionado podemos dizer que a educação e a comunicação tem muito a contribuir para melhorar o ecossistema em que vivemos.
A novidade é que o Ministério do Meio Ambiente determinou a incorporação da educomunicação nas suas metas de desenvolvimento, propondo que os coletivos educadores se apropriem da metodologia proposta pela educomunicação. Para deixar mais claro é que os coletivos educadores devem trabalhar as questões ambientais a partir do protagonismo juvenil, da socialização dos saberes, do compartilhamento das atividades, da dialogicidade, da ampliação da expressão comunicativa dos envolvidos, fazendo uso das tecnologias da comunicação e não apenas como mero reprodutores de conteúdo. O segredo é colocar a mão na massa. É fazer webrádio, jornal mural, fanzine, história em quadrinho, vídeo amador, blog, site, entre outras tecnologias.
Ismar de Oliveira Soares, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), precursor dos estudos da educomunicação no Brasil, afirma que o objetivo da educomunicação socioambiental é o de suprir o que as grandes campanhas midiáticas não alcançam: “transformar cada habitante do Brasil em um defensor ativo da natureza; em um sujeito capaz de empregar, de modo adequado, todos os recursos da informação disponíveis em seu espaço para mobilizar sua comunidade na defesa do ambiente e em sua revitalização.”
Vale destacar que levar a educomunicação para a sala de aula Izabel Leão é mestre em Educomunicação pela não é só pensar no produto final. O que se quer é que todos participem do processo de construção do produto midiático, desde sua concepção até a finalização. Que todos criem as pautas, elaborem os roteiros, pesquisem, entrevistem, escrevam, editem, e assim sucessivamente. O produto final, ou seja, o jornal mural, o programa de rádio ou vídeo editado é a conseqüència do trabalho de todos os envolvidos. Todos sabemos que o que dá prazer é ver ou ouvir o produto final. É isso que gera a atitude afirmativa para a continuidade do processo.
Isso sem esquecer que o planejamento é muito importante. Qual a periodicidade, quem vai compor a equipe, de que forma vai ser distribuído, ou ouvido, ou assistido? Qual o público-alvo? Entre outras questões que fazem parte da construção de um processo comunicativo. Envolver a todos no processo é enriquecedor. Promove a troca de saberes, estabelece cumplicidade, ajuda a compreender a diversidade de culturas.
O jovem ao se apropriar da mídia se torna protagonista do processo midiático. Ele começa a entender como a informação se processa. Sua visão de mundo é transformada e ele percebe melhor como se dá a relação do ser humano na sociedade e com isso pode entender melhor como ajudar a mudar alguns processos. O adulto, o professor, o educador envolvido nessa proposta também muda seu referencial de dono do saber para mediador do saber. Ele nunca deixará de ter um papel importante. No entanto, precisa entender que esse saber, na Era da Informação, disseminou-se. Saiu das páginas do livro didático e está presente na novela, no programa de auditório, no programa de rádio, que pode ser ouvido em qualquer lugar, ainda mais hoje com a onipresença do celular.
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