Patativa do Assaré, poeta cearense, 1909-2002. – Foto portal Patativa
Sem dúvidas em dizer e sem medo de falar pra quem quiser escutar, o personagem que mais cantou e versou a vida do sertanejo em sua essência mais popularizada é conhecido em todo Brasil como Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva).
Patativa nasceu no começo do século passado (1909) no alto da Serra de Santana, município de Assaré, sul do Ceará. Trabalho duro com a enxada toda a vida, desde menino até os últimos suspiro de vida, enfrentou a fome, a dor e a miséria, pois para ele para ‘ser poeta devera é preciso ter sofrimento’.
Cresceu ouvindo histórias, os ponteios da viola e folhetos de cordel nas inspiradoras cantorias e tertulhas das noite enluaradas e escuras do sertão cearense. A paixão era tão grande e o talento tão a flor da pele que com oito anos trocou uma cabra magra do pai por uma viola e aí, não parou mais!
Foi a escola apenas 6 meses de sua vida, o que não impediu de ser Doutor Honoris Causa por mais de quatro universidades. Não teve estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar a vida e o Sertão.
Desde os 91 anos de idade com saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, ‘já disse tudo que tinha de dizer’. Patativa deu o último suspiro em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome, ficando imortalizado em centenas de poesias, versos, músicas, ensinamentos e no imaginário popular da cultura nordestina.
“Meu nome é Antonio Gonçalves da Silva O Patativa do Assaré Vortei pra cantar meus verso Vocêis sabi inté cuma é Nasci no sertão do Ceará Percorri Brasil intêro Desde as terra da Amazônia Inté as de Conseiêro Vivi da agricultura Semeando sempre a terra De planalto a planície Subino inté a serra Cantei a Vaca Estrela E o veio Boi Fubá Cantei a Triste Partida Do povo do meu Ceará Que ia pra Sum Paulo Pra vida miorá Mas ficava desalientado Lugar num tinha pra trabaiá E fica desesperado Sem ter cuma vortá Cantei esse povo sofrido Do meu querido Nordeste Que vive passando fome Por causa da seca da peste Ó Meu bom Jesuis! Óia pra nóis Povo do Agreste Espaia tuas chuva de Norte a Sul, Leste a Oeste!
Perdi meu ôio direito Ficando meio imperfeito Num enxergando nem perto nem longe Mas logo me conformei Por saber que assim fiquei Parecido com Camões Caboco roceiro, das praga do Norte Que vive sem sorte, sem terra, sem lar A tua desdenha é tristonha que canto Se escuto teu pranto, me ponho a chorar Ninguém te oferece um feliz lentivo És rude e cativo, vive sem Liberdade A roça é teu mundo e também tua Escola Teu braço é a mola que move a cidade
Todo seu sofrer, é expricado com facilidade E todo mundo já sabe muito bem As raízes de todo esse mal Vem de sua mizeráve situação crítica Desigualdade política ,econômica e social Sou Poeta da Mata, cantô da mão grossa Trabaio na roça, de seca a estío A minha chupana é tapada de barro Só fumo cigarro de paia de mío! Cabra da Roça, sem nenhum medo Toda a vida na roça, sem nenhum segredo Estudei muito poco, praquílo que sô Mais em muitos lugáre, me chamam de Dotô!”
Chico Dênis. é cearense, e atualmente vive em São Paulo. À época da publicação do texto na revista Escrita, Francisco Dênis era estudante de Relações Internacionais e Integração na UNILA, em Foz do Iguaçu, Pr. Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré (Assaré - CE, 5 de março de 1909 — Assaré - CE, 8 de julho de 2002), foi um poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro
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