A agricultora Dulce Lopes, 55, mora há sete anos no Acampamento Resistência Camponesa, do MST, na cidade de Cascavel, no Paraná. Entusiasmada com as novidades, ela não esconde o orgulho de ter participado da construção de um projeto super importante para a comunidade:
“Nós mesmos fizemos a nossa agroindústria. Construímos com o nosso próprio dinheiro, com o nosso suor”
O esforço mencionado por Dulce resultou na inauguração, agora em agosto, da Agroindústria de Beneficiamento de Mandioca do acampamento Resistência Camponesa.
Com 39 metros quadrados, a unidade foi construída com trabalho coletivo e voluntário. Ela ficará responsável por processar, lavar, classificar, pesar e empacotar a mandioca plantada no próprio território ocupado pelos trabalhadores e trabalhadoras.
O projeto teve o custo de R$ 30 mil, entre obras e equipamentos.
“As famílias vão descascar a mandioca e depois passar para o congelador. A gente vai deixar aqui até o outro dia. No outro dia, chega o caminhão e a gente despacha estas mandiocas”, descreve o modo de operação da Agroindústria, a agricultora Ocalina Carlota
As mandiocas já têm destino certo. Toda produção será comercializada para escolas públicas, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar -PNAE – com apoio da Cooperativa da Reforma Agrária e Agricultura Familiar. “Esse espaço vai ser útil porque a gente vai se juntar mais vezes do que se juntava antes, vamos ficar mais coletivo ainda. A gente vai ficar mais tempo junto”, relembrou Ocalina.
O economista Eduardo Moreira é um dos incentivadores dos modos de produção dos Acampamentos e Assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pelo Brasil, e foi um dos convidados da atividade de inauguração da Agroindústria. Além de investidor, ele é entusiasta do Finapop, um programa de financiamento popular para a cadeia produtiva da Reforma Agrária.
“Isso aqui poderia ser um exemplo daquilo que a gente deveria fazer no país inteiro. Deveria ser um exemplo de modelo de desenvolvimento sustentável no campo. Uma comunidade que preza pela agroecologia, pelo sistema orgânico, enfim. Eu acho que a gente deveria conhecer mais esses exemplos que a gente tem no Brasil profundo, em lugares onde o Estado não costuma olhar, de coisas que podem dar muito certo”, disse o economista.
O espírito da comunidade está no próprio nome. Há 22 anos que prevalece a resistência camponesa na construção de um mundo melhor. Os trabalhadores lutam para conquistar a posse da área, com a criação de um Assentamento da Reforma Agrária.
“Meu sonho é sair logo essas terras, né? Para a gente ir logo pra cima desses lotes, e daí a gente pode construir uma comunidade bem bonita e ter o cantinho para a gente viver, né?”, desabou Dulce Lopes, a agricultora entusiasmada com agroindústria do início desta reportagem.
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