– Um ensaio de Kariny Wermouth –
Sempre ouvimos desde pequenos sobre a importância da leitura. Entretanto, sabemos que o discurso não é suficiente para que se desenvolva o tão conceituado interesse em alguém. Trago na minha experiência as dificuldades e alegrias de ter sido pouco a pouco aproximada e conquistada pelas palavras oferecidas nos livros. Posso afirmar que não foi um processo fácil, muito menos rápido romper com o que parecia estar estabelecido desde sempre. Cumpri etapas. Passou o tempo e, a partir de experiências que fui acumulando como facilitadora de leitura em projetos como o ‘Tirando de Letra’, desenvolvido pela Associação Guatá e, mais recentemente, o ‘Agentes de Leitura do Paraná’ (esforço conjunto da Biblioteca Pública do Estado com a Fundação Cultural de Foz), encontrei semelhanças com a da minha própria realidade através do contato com outros jovens, adultos e crianças, com os quais tive o privilégio de conviver. Minhas observações durante oficinas e visitas me deram mais argumentos sobre a questão da leitura e sua aceitação pelo gosto popular. Podemos partir do princípio que temos diversos pontos contra o desenvolvimento desse gosto. Mas precisamos começar pelo fato de que a falta de hábito não é um processo natural. Os costumes são instalados socialmente e dentro de um cenário próprio. Somos antes de tudo, um país de pouca escolaridade ainda. A capacidade de ler entre as camadas populares é ainda recente e limitada. E é fato que muitos foram à escola e continuam analfabetos funcionais. Essa constatação, no entanto, não explica tudo. Vejamos outras questões, começando pela instituição Escola. Aliás, ela é o espaço público mais frequentado pela maioria dos jovens e crianças e legitimado socialmente. É lá onde ocorrem os primeiros contatos com o mundo letrado. Entretanto, os limites do modelo de funcionamento escolar, às vezes acabam atropelando o estímulo e impondo um modo de se relacionar com a literatura, que se distancia do poder de autonomia que pode ser gerado por esse contato.
Kariny Wermouth é estudante de História e agente de leitura em Foz do Iguaçu, Pr. Texto publicado originalmente na revista Escrita 44. Fotos: acervo Agente de Leituras
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