Uma visão popular dos territórios brasileiros, valorizando as práticas e saberes dos povos do campo, das florestas, das águas e das cidades, que produzem os alimentos – Arquivo MST
Agroecologia e Democracia é a nova coluna, lançada em meados de setembro, dedicada a discussões sobre agricultura familiar, soberania e segurança alimentar e nutricional, políticas públicas, comercialização de alimentos, terra e território e outros assuntos de interesse do movimento agroecológico brasileiro.
Resultado da parceria entre o jornal Brasil de Fato e a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o espaço quinzenal foi pensado como ambiente de diálogo com a sociedade, um elo entre o campo e a cidade. Aqui traremos uma visão popular dos territórios brasileiros, valorizando as práticas e saberes dos povos do campo, das florestas, das águas e das cidades, que produzem os alimentos que chegam às nossas mesas todos os dias.
O diálogo com a sociedade é parte da estratégia da ANA – espaço de articulação e convergência entre movimentos, redes e organizações da sociedade civil brasileira engajadas em iniciativas de promoção da agroecologia, de fortalecimento da produção familiar e camponesa e de construção de alternativas sustentáveis de sistemas alimentares. Atualmente, a Articulação reúne redes estaduais e regionais, centenas de grupos, associações e organizações não governamentais em todo o País, além de movimentos sociais de abrangência nacional.
A ANA organiza a sua ação em três frentes. A primeira delas consiste em articular iniciativas realizadas pelas organizações integrantes em seus programas de desenvolvimento local/territorial, promovendo o intercâmbio entre elas e fomentando a reflexão coletiva a partir das lições aprendidas nos diferentes contextos.
Dessas lições, são retirados subsídios para a segunda frente de ação: o trabalho de incidência sobre as políticas públicas. Através de troca de experiências e de debates, são identificados gargalos e desafios para o desenvolvimento da agroecologia e elaboradas propostas para a criação e o aprimoramento de políticas públicas que promovam sinergias entre os recursos públicos e os recursos sociais, ecológicos e econômicos provenientes dos territórios. Essa estratégia tem fortalecido a ANA como ator político representante do campo agroecológico, legitimando-a para propor e negociar o aprimoramento de políticas junto aos governos.
A ANA busca dar visibilidade à realidade da agricultura familiar e camponesa e às propostas defendidas pelo campo agroecológico / Foto: Cetra
A terceira frente de ação da ANA se refere à comunicação com a sociedade, que busca dar visibilidade à realidade da agricultura familiar e camponesa e às propostas defendidas pelo campo agroecológico e, assim, estimular uma atitude proativa em defesa dessas propostas.
Desde o seu nascimento, a ANA tem a comunicação como um forte pilar de suas ações. A partir de 2020, essa frente foi intensificada tendo em vista o contexto mundial de pandemia do coronavírus e, nacionalmente, o cenário marcado pela incapacidade do poder Executivo Federal de governar o País. Chegamos a setembro de 2021 batendo a triste marca de mais de 21 milhões de infectados e quase 600 mil mortos pela Covid-19. Associados a esse quadro, vivemos desmonte de políticas públicas, perda de direitos da população, negação da letalidade e transmissão do vírus e seus impactos na saúde, renúncias de ministros e vácuo na liderança da pasta da Saúde, além de escândalos de corrupção e denúncias de crimes envolvendo a família do presidente da República Jair Bolsonaro.
Por outro lado, o cenário de recrudescimento da pobreza e da fome, o crescimento do consumo de ultraprocessados, a elevação de preços da cesta básica, ao mesmo tempo em que houve aumento recorde de exportação de produtos e liberação de agrotóxicos, tornaram ainda mais urgente e desafiadora a necessidade de expor as contradições do agronegócio e afirmar a agroecologia como resposta à crise.
Por esses motivos, neste período da pandemia da covid-19, a ANA tem intensificado suas ações de comunicação, sobretudo no ambiente virtual, e ampliado a relação com os meios de comunicação popular e alternativa, a exemplo do Brasil de Fato. Essa opção editorial reflete a decisão política de situar a agroecologia e a comunicação no mesmo chão em que vive a classe trabalhadora. A agroecologia e a comunicação defendidas pela ANA são feitas por e para trabalhadoras e trabalhadores e devem ser acessíveis a toda a gente.
Conjuntura coloca necessidade de expor as contradições do agronegócio e afirmar a agroecologia como resposta à crise / Divulgação / MST
Vemos que, por um lado, a parcela da sociedade que se beneficia com as concepções dominantes de agricultura e de comunicação é formada, de modo geral, pela mesma elite econômica que defende o regime neoliberal e o desmonte dos programas e políticas públicas conquistadas nos últimos 30 anos. Mas por outro lado, as reflexões e as práticas nos territórios apontam como o campo popular tem acumulado conhecimentos e propostas não apenas para a construção de sistemas alimentares mais saudáveis, solidários e sustentáveis como também para a democratização dos sistemas de comunicação.
E é baseando-se nestas iniciativas populares que a comunicação e a cultura têm sido afirmadas no âmbito da ANA enquanto caminhos para a construção de conhecimentos e para o fortalecimento da democracia, sem os quais a agroecologia não alcança na plenitude o seu potencial transformador.
Assim, seguimos provocadas/os a enraizar cada vez mais o diálogo com a sociedade, entendendo que a comunicação é o território simbólico em que cultivamos a agroecologia e que o caminho de disputas de narrativas não será trilhado individualmente. Afinal, na comunicação, aquilombar-se também é necessário. O convite está aberto a todas e todos a fazerem conosco essa coluna, onde Agroecologia e Democracia unem campo e cidade.
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