Você sabia que em 2017 o Paraná ocupou a posição de terceiro maior consumidor de agrotóxicos? E ainda, segundo dados do Ministério da Saúde, de 2007 a 2014 foram 34.147 notificações de intoxicação por agrotóxico registradas no Brasil? E que um terço dos alimentos consumidos pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos, segundo análises de amostras coletadas em todos os 26 estados do Brasil pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa? Estes dados revelam que o agrotóxico está presente no dia a dia do brasileiro e que traz riscos sérios para saúde. O Dossiê dos Agrotóxicos elaborado pela Abrasco, explica que “o uso de um ou mais agrotóxicos em culturas para as quais eles não estão autorizados, sobretudo daqueles em fase de reavaliação ou de descontinuidade programada devido à sua alta toxicidade, apresenta consequências negativas na saúde humana e ambiental, causando problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer (…)”.
Também há risco de contaminação do leite materno e problemas para a saúde do recém-nascido. Pesquisas realizadas por universidades públicas detectaram em amostras de leite materno um número elevado de substancias agrotóxicas. Foram coletadas amostras de leite em 62 nutrizes que se encontravam amamentando da segunda à oitava semana após o parto, pela Universidade Federal do Mato Groso, na cidade de Palmas. A maioria das doadoras (95%) tinha, em média, idade de 26 anos, e 30% eram primíparas e residiam na zona urbana do município. Todas as amostras analisadas apresentaram pelo menos um tipo de agrotóxico analisado.
Além dos efeitos a longo prazo para nossa saúde, há dados que revelam que ano a ano aumentam os casos de intoxicação por uso de agrotóxico. De 2007 a 2017, data do último levantamento oficial do Ministério da Saúde, foram notificados cerca de 40 mil casos de intoxicação aguda por causa deles. Quase 1.900 pessoas morreram. Segundo maior produtor de grãos do país, o Paraná é o estado com o maior número de casos relatados. As intoxicações ocorrem quando há exposição a uma ou mais substâncias tóxicas, seja esta exposição intencional (tentativas de suicídio, de homicídio ou de abortamento); acidental (reutilização de embalagens, fácil acesso das crianças a produtos); ocupacional (no exercício da atividade de trabalho) ou ambiental (água, ar ou solo contaminados, proximidade de áreas pulverizadas, cadeia alimentar).
O consumo desses produtos cresceu 93% em todo o mundo, no Brasil o crescimento foi de impressionantes 190% nos últimos dez anos, segundo dados divulgados pela Anvisa. E a explicação está no interesse pelo lucro muito mais do que pela saúde. A advogada popular e mestra em Direitos Humanos pela UFPR, Naiara Bittencourt explica que “existem dois projetos de agricultura que são antagônicos. Um dependente de insumos agrícolas e que está inserido num pacote que inclui agrotóxicos, fertilizantes e também sementes transgênicas para serem adaptadas a estes agrotóxicos e grandes maquinários. Neste modelo é preciso produzir em grande escala e tem o lucro como norte. Esse modelo é conhecido como agrário dependente”. Em contraposição a este modelo, o outro é o que chamamos de modelo agroecológico. “É o da agricultura familiar, da produção agroecológica, da produção orgânica, que não depende destes insumos e visa não só elevar a qualidade de vida do agricultor e agricultora que produz este tipo de alimento e sua autonomia em relação a grande empresa, como a saúde da população urbana que vai consumir estes produtos”, explica Naiara. Assim, é possível resumir que de um lado há interesse pelo lucro e de outro pela saúde coletiva. Naiara diz que “a política capitalista é guiada por interesses econômicos e neste modelo pouco se discute se faz mal para coletividade ou causará danos à biodiversidade nacional. O lucro é o interesse. Facilita para o grande produtor, que no lugar de roçar a terra, coloca glifosato para matar tudo o que tem em volta, porém não calcula os danos à saúde de uma população inteira. ”
A professora do departamento de Geografia da USP, Larissa Bombardi, em sua tese de doutorado, ressalta que um terço dos agrotóxicos comercializados no Brasil são proibidos na União Europeia. “Em território brasileiro, o glifosato é o ingrediente mais vendido e comprovadamente gera mortes precoces e desenvolvimento de tumor em outros animais. No Brasil é permitido resíduos de glifosato no café dez vezes maior do que é permitido na União Europeia. No feijão, permitimos 400 mais resíduos da malationa, um tipo de inseticida, do que é liberado na União Europeia”, informa a professora. “ (card)
Nenhum alimento com agrotóxico vem com um selo escrito “este alimento possui agrotóxicos. ” Mas, é possível identificar alimentos livres de agrotóxicos, os orgânicos. Alimentos orgânicos certificados, que vêm com um selo de certificação ou dentro de uma embalagem específica, e frutas e hortaliças da época ou da sua região são opções mais seguras e, em tese, livres de defensivos químicos — ou pelo menos de quantidades muito alta deles.
Também chamados de defensivos químicos, são produtos utilizados na agricultura para controlar insetos, doenças ou plantas daninhas que causam danos às plantações.
______________________________Da página Brasil de fato / Texto: Ana Carolina Caldas
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