Há 7 anos quando fui aprovada no concurso público Federal para ser professora na Unila passei horas profundamente emocionada vendo um vídeo que o Rafael Gomes e Besna (Yacovenco) fizeram sobre o golpe contra Fernando Lugo no Paraguai. Sabia que as mazelas do nosso continente eram muito mais profundas do que podemos imaginar e que na Unila eu teria grandes companheiros/as estudantes para compreender melhor nosso continente. Emocionada por ter tomado a decisão de estar na Unila, que significaria mergulhar na consciência política necessária para entender a América Latina, naquele momento entendi que precisaria viajar todos os países da América Latina e do Caribe para falar com suas gentes, mergulhar em seus rincões e sempre que possível ser recebida por algum/a estudante da Unila e seus familiares. Faria isso em 10 anos. Nos últimos 7 anos consegui viajar grande parte destes países, ainda me faltam alguns rincões do Caribe.E o Equador foi um destes países na qual consegui ficar um tempo viajando naquele pequeno/grande território. Em Quito me indignei com a quantidade de ouro encravado nas paredes das igrejas católicas, em Otavalo – nas suas ruas em que tudo se troca e se vende-, me emocionei com os longos cabelos negros de suas gentes, peguei um pequeno ônibus para subir as montanhas e encontrar os lagos que um dia foram vulcões, troquei comida e palavreados com mulheres e homens indígenas que subiam de volta às montanhas. Vi a agricultura daquelas ribanceiras, almocei na casa de indígenas nos pequenos povoados, lá onde o frio bate nos ossos. Conheci o Equador negro ao cruzar por Esmeralda, ao ir até a Isla Portete onde um dia naufragou um navio de escravos (a caminho do Haiti) e a partir daí o litoral equatoriano também se misturou com a África. Desde Guayaquil era possível ver as impressões daquele país que também tem classes sociais bem demarcadas. Fui à Galapagos me impressionar com a imensidão da natureza. Viajei num pequeno ônibus por ribanceiras outras até Cuenca. Passei o carnaval entre os desfiles nas ruas de comunidades indígenas do interior que são felizes nesta grande festa popular que nos atravessa. Fui até Baños e me lancei num balanço sobre um antigo vulcão. Viajei mais, senti o calor amazônico. Tudo ali é sangue indígena correndo nas veias… De todos os países que fui, sempre digo que o Equador É um pequeno grande país que ignoramos, mas que agora nos dá uma grande lição de que para o capital só somos mais um pedaço de terra a ser usurpada pelos interesses internacionais. Se para eles o sangue indígena que corre agora no solo de Quito é só mais uns números ignorados, para nós este sangue tem que ser o adubo que fortalece nossas lutas.Por fim, quando entrei na Unila entendi rapidamente que mais do que ter dominio completo sobre a área de cinema, eu tinha que entender profundamente das dores e amores da América Latina e do Caribe. Não me arrependo desta escolha. Venho aprendendo com o cinema, mas especialmente com a América Latina: esse continente sem pernas, mas que caminha.Foi lá no Equador que conheci, por fim, o trabalho do pintor equatoriano Oswaldo Guayasamin que já na tela derramava as lágrimas de sangue dos/as trabalhadores/as!
_________________________Fran Rebelatto, brasileira, é professora de Cinema na Unila, em Foz do Iguaçu, Pr.
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