Plantio de araucária na comunidade Emiliano Zapata, em Ponta Grossa – Foto: Valmir Fernandes / MST-PR
Um certo profissional das engenharias, graduado no interior do estado de São Paulo, afirmou-me categoricamente que nunca mais havia se esquecido de dois de seus professores que outrora foram formados por uma extinta faculdade de Ciências Naturais. Esses professores davam aulas complementares às disciplinas das ciências exatas na sua graduação, disse-me o engenheiro. Um desses professores, numa ocasião, utilizou-se de uma atividade didática simples para provar a importância das árvores no ambiente. Portando-se apenas de fitas de papéis medidores de umidade, ele se deslocou com a turma para o campus da faculdade naquela época. E provou que em meio a fragmentos de árvores, pequenos bosques, a umidade relativa do ar estava 15% a mais do que nos espaços desprovidos de árvores. Claro que era apenas uma atividade didática, como dito, não se tratava de um campo de pesquisa, mas com isso já era possível afirmar sem sombra de dúvidas qual o grau da importância das árvores no equilíbrio térmico dos ambientes. Empiricamente também sabemos disso, o quão melhor e agradável é estar às sombras de árvores em dias de calor elevado.
Inicia-se nesta semana mais uma estação de primavera. Um pouco antes, o Dia da Árvore, 21 de setembro. E junto delas, a meteorologia prevê dias de intenso calor que poderão registrar recordes de temperatura em alguns locais do centro e sul do Brasil. Essas ondas de calor estão se tornando cada vez mais intensas, frequentes e prolongadas, comparadas com registros feitos nos últimos 50 a 60 anos.
Órgãos de monitoramento atmosférico, em setembro, destacam que a mudança climática está aumentando a frequência de cúpulas de calor intensas, elevando-as mais alto na atmosfera. Na prática, é como adicionar ar quente a um balão de ar já aquecido.
Essas são consequências que as gerações contemporâneas convivem e tendem a conviver por um largo período ainda. Tudo está associado à alta produção e emissão de carbono na atmosfera, motivado especialmente pela queima de combustíveis fósseis que abastecem veículos, indústrias e usinas de geração de energia. E a outra consequência se dá pela diminuição das florestas ao redor do mundo, através da queimada e da extração de madeira.
Portados dessas informações, não temos dúvida de que a defesa do meio ambiente, na fase atual do modelo de economia capitalista, é parte da luta de classes no mundo.
Defesa do meio ambiente, na fase atual do modelo de economia capitalista, é parte da luta de classes”
Dados oficiais do Instituto de Água e Terra do Paraná (IAT) mostram que os assentamentos da reforma agrária no estado têm, em média, 29,4% de vegetação nativa, num total de pouco mais de 121 mil hectares. Isso quer dizer que as áreas de reservas legais nestas comunidades são pelo menos 9,4% acima do mínimo previsto por lei (20%). De 333 assentamentos levantados, 71 destes imóveis (equivalente a 21,3%), possuem cobertura de vegetação nativa superior a 40%. Diante desses dados, não é difícil afirmar que promover a Reforma Agrária é promover um dos melhores programas de preservação e recuperação ambiental.
Plantio na comunidade Vitória do Contestado, em General Carneiro. Foto: Juliana Barbosa / MST-PR
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ruma aos seus 40 anos. Tem um acumulado de experiências a partir de todos os territórios Brasil afora, mas também de outros povos do mundo. Desde 2020, organiza e articula um plano de plantio de 100 milhões de árvores para a próxima década em seus territórios, feitas a partir do povo camponês presente nesses lugares. É o Plano Nacional “Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis”. Tendo plantado mais de 11 milhões de árvores até o final de 2022.
A natureza aumenta a frequência, a intensidade e o prolongamento de eventos extremos como resposta às agressões a ela causadas pelo modelo de economia capitalista que a depreda. Nosso papel é curá-la com a mesma intensidade, de forma prolongada e repetida com o plantio massivo de árvores. Tornar-se uma cultura. Não é fácil, é árduo, mas é parte da luta revolucionária e civilizatória que a história nos condiciona.
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